Apesar de o governo do Estado aportar um valor de R$ 3,07 bilhões no Rodoanel Metropolitano, conforme proposto em audiências públicas, a obra, segundo apresentação da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade (Seinfra), terá um pedágio cobrado de R$ 0,35 por km rodado por eixo. Esse valor é 1.067% maior do que o praticado na rodovia Fernão Dias, entre Contagem e São Paulo, que tem como preço unitário R$ 0,033 por km rodado por eixo. Na BR–381, que liga Minas a São Paulo, há oito praças de pedágio, de R$ 2,30 cada.
Em uma conta simples baseada na situação em que o motorista percorreria todos os 100,6 km do percurso do Rodoanel, um carro de passeio gastaria R$ 35,23 para transitar em todo o traçado.
Para se ter uma ideia do valor que pode ser implantado, o mesmo condutor gasta atualmente R$ 18,40 para percorrer os 561 km da Fernão Dias entre Contagem e São Paulo.
O preço do pedágio do Rodoanel, conforme apresentação da própria Seinfra, difere em 1.067% o valor cobrado na Fernão Dias. Na proposta do Estado, a expectativa é que cerca de 32 mil veículos passem pelo Rodoanel, que terão 4,3 eixos em média.
Considerando que essa quantidade de veículo percorra todos os 100,65 km do Rodoanel diariamente, haveria uma receita de R$ 1,716 bilhão com pedágio anualmente.
O projeto do Estado prevê que, dos R$ 5,09 bilhões do custo da obra, R$ 2,02 bilhões serão provenientes de pedágio. Ou seja, com uma arrecadação média de R$ 1,716 bilhão com cobrança, em apenas 14 meses, a concessão da obra seria quitada. Segundo especialistas, o normal em projetos desses tipos é que o retorno às concessionárias aconteça em média de oito a dez anos. A proposta de “modelagem” proporciona um negócio de lucratividade, sem precedentes no mundo.
A fórmula do Estado ainda não considera o aumento previsto de aumento de 3,67 % de veículos a cada ano, estimado para os primeiro dez anos.
“Esses cálculos são simples e baseados em dados fornecidos pelo próprio Estado no projeto divulgado. No caso de o veículo de passeio percorrer toda a extensão do Rodoanel, ele pagará R$ 35,23 de pedágio, o que dá um valor unitário de R$ 0,35 por quilômetro rodado para cada eixo. Supondo que um veículo tenha quatro eixos, esse valor seria multiplicado por quatro. Então, considerando essa média de 32 mil veículos por dia fazendo todo o percurso, seriam mais de R$ 1,769 bilhão arrecadados por ano, o que quitaria o valor da concessão em apenas 14 meses. Então, o que vemos é que o projeto do jeito que foi lançado pelo Estado privilegia a concessão, e não a realização da obra”, explicou a superintendente de Projetos Públicos de Betim, a engenheira Giciele Souza.
O valor unitário de R$ 0,35 por km rodado por eixo está acima do normal. Para o engenheiro Frederico Rodrigues, mestre em engenharia urbana e doutor em engenharia de transporte, esse cálculo simples possui lógica e é feito em cima da hipótese de o motorista percorrer todos os 100 km do Rodoanel. Mesmo assim, ele considera o valor acima do normal para concessões. “O valor de R$ 0,35 por quilômetro rodado para cada eixo é alto. O que é normal em concessões é cobrar até R$ 0,15 por quilômetro”, afirmou.
Em setembro de 2020, o secretário da Seinfra, Fernando Marcato, declarou ao jornal “Valor Econômico” que o governo avaliava que seriam necessários R$ 8 bilhões para o Rodoanel e que o projeto dependia de um aporte de recursos do poder público para se viabilizar.
Procurada pela reportagem, a Seinfra não respondeu.
Pedágio pode esvaziar Rodoanel
Na avaliação do engenheiro Frederico Rodrigues, o alto valor do pedágio que pode ser cobrado no Rodoanel poderá resultar em um esvaziamento do tráfego no corredor viário – cujo objetivo é retirar o fluxo de veículos do Anel Rodoviário de BH.
“O fato de o valor ser elevado pode provocar a fuga dos motoristas por rotas alternativas. As pessoas vão optar pelo próprio Anel Rodoviário, que é de graça. A população será desestimulada, e o Rodoanel poderá se tornar apenas uma via de passagem na região metropolitana”, avaliou o especialista, que está fazendo uma análise dos números do projeto do corredor viário.
Ele afirmou que a obra é necessária, mas disse que é preciso um projeto mais viável. “Um Rodoanel é uma obra necessária para a mobilidade da região metropolitana de BH. No entanto, seu traçado precisa ser em área rural e não pode se tornar uma barreira física na mancha urbana já consolidada”.
Alternativo sem pedágio
O projeto alternativo das prefeituras não prevê pedágio para o Rodoanel. Em audiências, prefeitos já se declararam contra a cobrança, pois o recurso da Vale pagaria toda a obra. A proposta dos municípios, além de custar R$ 2 bilhões a menos que o traçado do Estado, contempla três pistas. Na do Estado, são apenas duas faixas, e não há previsão de ampliação.
Além disso, o custo com desapropriações no traçado de MG é seis vezes maior.