
Projeto quer proibir uso de canudinho no comércio
Proposta de lei que prevê multa para estabelecimentos que venderem canudo divide opinião e levanta discussão sobre uso excessivo de plástico
Um projeto de lei que visa a proibição da comercialização do canudinho em Betim está gerando debates e reflexões quanto ao uso indiscriminado dos resíduos plásticos. Muitas pessoas concordam que o produto pode ser retirado do mercado, sem alterar muito o cotidiano. Mas, para outros, inclusive especialistas, a discussão vai além e envolveria uma redução drástica no uso do plástico no dia a dia.
Segundo as fundações Ellen McArthur e Sopa de Plástico, a cada minuto, é despejado no mar uma quantidade de plástico equivalente a um caminhão cheio – o que significa 1.440 caminhões em 24 horas e 8 bilhões de quilos por ano. As instituições alertam que, se a população continuar com esses hábitos, até 2050, os oceanos terão mais plástico do que peixes.
Para o autor do projeto em Betim, vereador Palmério Cardoso, o Palmerinho, embora possa parecer um hábito inofensivo no cotidiano, o uso dos canudinhos gera danos consideráveis ao meio ambiente. “A quantidade de produto descartada é realizada em volumes consideráveis e, por não se tratar de um produto reciclável, a decomposição dos canudos de plástico pode demorar em torno de 1.000 anos”, disse.
O texto prevê que restaurantes, bares, lanchonetes, padarias, vendedores ambulantes ou qualquer pessoa que desenvolva atividade comercial, ficam proibidos de fornecer, gratuitamente ou comercialmente, canudos de plástico a seus clientes. O projeto ainda define multa no valor de R$ 3.000 em caso de descumprimento.
Caso o projeto seja aprovado, o comerciante Mauro Moreira, 39, acredita que será uma questão de adaptação. “É importante para o meio ambiente e esse é um produto de primeira necessidade. Se a lei for aprovada, vou avaliar a reação dos clientes e buscar uma maneira de suprir a demanda”, afirma.
Outras ações
Na padaria de Vânia Sobreira, 38, algumas atitudes já foram colocadas em prática. “Quando o cliente vai consumir na loja, servimos as bebidas em copos de vidro, e os alimentos em pratos de louça. Os canudinhos não ficam expostos também. Só fornecemos quando o cliente pede”, conta. “Se o projeto for aprovado vamos buscar outras maneiras de deixar o cliente satisfeito. Muitas vezes, eles pedem o canudinho porque, de fato, não é higiênico tomar nada direto na latinha, por exemplo”, pondera.
A aposentada Dalva Gonçalves da Silva, 59, também faz a sua parte e, há 13 anos, sai recolhendo materiais recicláveis pelas ruas da região do Novo Amazonas e Vila Bemge.
Ela, o marido e dois sobrinhos recolhem garrafas pet, embalagens de amaciante e derivados, papelão, aço e tudo que, de alguma forma, pode ser reciclado. “Muitas pessoas têm preconceito porque mexemos no lixo, mas não nos incomodamos. Estamos terminando de construir nossa casa do jeito que sempre sonhamos graças à renda extra”, revela a aposentada.
De acordo com Dalva, por mês, a família chega a recolher entre 70 e 90 quilos, sendo que a maioria é de materiais de plástico. “As pessoas precisam ter consciência. Além de consumir menos produtos industrializados, precisam aprender a separar os materiais orgânicos”, afirma.
Biólogo diz que ação é válida, mas é preciso ir além
Para o biólogo e professor do Departamento de Ciências Biológicas da PUC Betim, André Rocha Franco, o projeto de lei que prevê a proibição da comercialização do canudinho é uma iniciativa importante, mas é preciso ir além. “É uma ação eficaz, que pode ser positiva, se junto à ela for elaborado um plano para o fortalecimento dos programas educacionais. O planeta enfrenta uma crise ambiental grave e é preciso conscientizar a população e aplicar ações mais drásticas”, afirma.
De acordo com Franco, as pessoas precisam se sensibilizar e mudar os hábitos de consumo. “Levar uma caneca para o trabalho para não usar copos descartáveis é uma solução também. Outra opção é buscar consumir produtos com pouca embalagem, de preferência aqueles que ofereçam refis”, pontua.
“É importante saber de onde vem, como são produzidos os produtos que consumimos e ter sempre em mente o ciclo de reduzir, reaproveitar e reciclar”, finaliza.
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