A pouco mais de três meses do primeiro turno das eleições, a cidade de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, tem cerca de 17 pré-candidatos à prefeitura. Nesse leque de opções para os moradores da cidade, há estreantes em disputas majoritárias, deputados estaduais, além de vereadores do município. A disputa de 2020 também marca a tentativa de dois ex-prefeitos da cidade de voltar, pela terceira vez, ao comando do Palácio do Registro, sede do Executivo municipal.
É o caso da deputada estadual Marília Campos (PT), que foi prefeita na cidade por dois mandatos seguidos (de 2005 a 2012) e do ex-deputado federal Ademir Lucas (Podemos), que também comandou o município em duas ocasiões (de 1989 a 1993 e de 2001 a 2004). Os pré-candidatos apostam nas ações realizadas durante o período em que governaram a cidade e dizem que voltaram à disputa por um “desejo” do eleitorado.
“Desde que saí da prefeitura, a população sempre tem pedido para que eu volte. Num primeiro momento, estou atendendo ao apelo que é feito de forma frequente pelo eleitorado”, disse Marília Campos, destacando ainda que reconhece seu potencial na disputa. “Sei que sou boa candidata que vou dar o melhor de mim para Contagem”, complementou.
A petista ainda não fechou o seu plano de governo e deve apresentar as diretrizes tão logo a candidatura seja lançada oficialmente. “Já reuni em torno de 2.000 pessoas virtualmente, por território, e em temáticas específicas, como educação, esporte, lazer, cultura e assistência social”, disse, explicando que tem focado a participação popular durante a pré-campanha, processo que deve se intensificar com o início oficial da disputa.
“Fui prefeito por dois mandatos e fiz gestões muito boas, tanto que as pessoas vieram atrás de mim para ser novamente candidato. O povo que quer a minha candidatura”, explicou Ademir Lucas, seguindo o mesmo tom adotado por sua adversária. Responsável pela política de isenção do IPTU na cidade, que teve início em 2001 e perdurou até 2016, o ex-prefeito adota a estratégia de recorrer às ações realizadas enquanto comandou a cidade para conquistar o eleitorado.
O ex-gestor classificou seus mandatos como progressistas, elencando avanços na saúde, com a inauguração do Hospital Municipal José Lucas Filho, em 2003, e de cinco policlínicas. “Hoje a cidade está muito triste, o povo está desempregado, estamos perdendo indústrias e o povo pagando IPTU”, disse, criticando o atual prefeito, Alex de Freitas (sem partido). Caso seja eleito, ele afirmou que vai focar no desenvolvimento econômico e social do município.
Embora tenha tentado, sem sucesso, voltar ao comando da cidade em 2012 e 2016, quando obteve, respectivamente, 25,4% e 22,3% dos votos válidos, Ademir ressaltou que “as eleições não são iguais”. “O povo está descrente dos políticos, dessa geração que veio depois de mim, de forma que as pessoas querem políticos que cumpram com suas palavras e tenham compromisso”, disse, criticando os ex-prefeitos que assumiram a cidade depois de seu mandato e não teriam dado continuidade às ações desenvolvidas.
Demais pré-candidatos apostam na renovação política
Enquanto ex-prefeitos tentam voltar ao comando da cidade, os demais pré-candidatos apostam em uma renovação política na gestão, fazendo críticas ao modelo de gestão adotado nos últimos anos. É o caso do Partido Liberal, que colocou o nome do presidente da legenda na cidade, Wellington Silveira, na disputa.
“Contagem é uma cidade que padece de males há muitos anos. Vem sendo governada pelo mesmo grupo, que se alterna no poder, e nosso partido deliberou por uma candidatura que escape desse círculo vicioso”, explicou Silveira, apontando que os principais entraves do município estão na saúde e na infraestrutura. “Há, também, o problema que está na raiz de todo o mal, que são os vícios políticos do mais barato fisiologismo que domina a nossa cidade”, complementou.
Deputado estadual e ex-vereador de Contagem, o Professor Irineu (PSL) já fechou aliança com o Progressistas, partido ao qual o seu filho, Daniel do Irineu, que é vereador na cidade, está filiado. “Vamos defender a bandeira do PSL, que é o combate à corrupção. Combatendo a corrupção, podemos terminar as obras paradas, e uma bandeira que vou defender é o término dessas intervenções antes de começar novas”, explicou o pré-candidato, acrescentando que o desgaste sofrido pelo PSL em âmbito nacional com a saída do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) da sigla não deve interferir na disputa.
O diretório do Democratas em Contagem informou a O TEMPO que lançará um pré-candidato à prefeitura da cidade, mas explicou que o nome ainda está sendo debatido. De acordo com as informações, o partido está em busca de um candidato sem vínculos com nenhum grupo político da cidade.
Prefeito da cidade não vai apoiar nenhum candidato
O prefeito de Contagem, Alex de Freitas (sem partido), que decidiu não disputar a reeleição, declarou que não vai apoiar oficialmente nenhum dos pré-candidatos. “Não tenho intenção de apoiar nenhuma das candidaturas que estão postas. Os partidos que colaboram comigo na gestão estão tomando suas decisões livres de qualquer pressão do Executivo”, disse o gestor, ressaltando que vai deixar a cidade “escolher com a maior independência e sem nenhuma contaminação da máquina”.
Nos bastidores, havia especulações de que ele pudesse apoiar os vereadores Ivayr Soalheiro (PDT) ou Wellington Ortopedista (PRP), informação que foi negada pelo gestor. “Vou seguir sendo prefeito e vou escolher um pré-candidato para votar, mas liberei os partidos que compõem a minha base para fazer o que considerarem melhor”, explicou.
O grande número de pré-candidaturas pode ser explicado pelo fim da coligação para as vagas proporcionais. “Isso pode ser consequência de não ter mais coligação para vereador. Então, cada partido, se quiser fazer um vereador, tem que ter puxador de voto, e o candidato a prefeito pode ter essa função”, explicou Carlos Ranulfo, cientista político da UFMG.
Ainda segundo o especialista, é provável que haja um afunilamento das pré-candidaturas e que o cenário atual não seja o que o eleitor de Contagem vai encontrar nas urnas. “Tem muito candidato que se lança para fazer um balão de ensaio, vendo se (a candidatura) cola ou não, e depois fazer acordos (com os demais pré-candidatos)”, analisou. (SG)