Daqui a cinco anos, o Brasil ingressará no terceiro centenário de sua história como país independente. Neste 7 de setembro, aos 195 anos de nossa independência, é possível comemorar o que nossos antepassados conseguiram. Atravessamos quase 200 anos consolidando um imenso território soberano e unificado por redes de transporte, de comunicações e de distribuição de energia. A economia brasileira está entre as maiores do mundo no valor do Produto Interno Bruto, e passamos de 200 milhões de habitantes. Não há dúvida de que temos que comemorar os primeiros dois séculos.
Mas, se no lugar de mirarmos a história, olharmos ao redor, a festa perde seu brilho. Comemoramos um elevado PIB, o oitavo do mundo, que também é o 84º quando dividido por habitante devido a nossa baixa produtividade. Igualmente grave, nossa economia concentra-se em bens agrícolas e minerais ou em indústrias tradicionais porque somos um país de baixa capacidade de inovação. Do ponto de vista social, carregamos a vergonha de ser campeões em concentração de renda, temos formidáveis ilhas de riqueza e um trágico mar de pobreza.
Chegamos ao nosso terceiro século divididos tão brutalmente que podemos considerar-nos um sistema de apartação, um país onde a população está dividida e separada por “mediterrâneos invisíveis” intransponíveis. Somos um país integrado fisicamente e desintegrado socialmente. Por isso somos, em parte, campeões de violência urbana com mais de 100 mil mortos por ano: 50 mil assassinatos e 45 mil vitimas de acidentes de trânsito.
Na política, apesar de comemorarmos o aniversário com um sistema democrático e instituições funcionando, em nenhum outro momento tivemos uma classe política tão desacreditada. A sensação é de que o país entra no seu terceiro século desagregando-se, sem coesão social e sem rumo histórico.
O mal-estar explica-se por muitas causas, mas certamente a principal está no descaso com a educação de nossa população desde a primeira infância. Chegamos ao nosso terceiro século com 13 milhões de compatriotas adultos incapazes de reconhecer a própria bandeira da República por não saberem ler o lema “Ordem e progresso”. Além desses, segundo o IBGE, são quase 28 milhões de adultos analfabetos funcionais. Apenas um pequeno número de jovens recebe formação necessária para construir a economia e a sociedade do conhecimento que vai caracterizar o século adiante. Passados dois séculos, ainda somos um país com baixíssimo grau de instrução e com abismal desigualdade no acesso à educação conforme a renda da família.
Não seria difícil fazer com que, bem antes do quarto século, o Brasil consiga ser um país com educação de qualidade para todos: os filhos dos mais pobres em escolas com a mesma qualidade dos filhos dos mais ricos; uma sociedade que não dispensaria um único talento intelectual de sua população. Sem isso, certamente não teremos o que comemorar quando o quarto centenário chegar.
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