Não foi suficiente o apelo do presidente eleito, Jair Bolsonaro, para que os senadores não aprovassem o aumento de 16% nos salários dos ministros do Supremo e da procuradora geral da República. Por 41 votos a 16 e uma abstenção, o Senado fez o que não devia.
Os novos governos vão ter enormes dificuldades para absorver mais essa despesa, que terá um impacto de R$ 4 bilhões nas contas públicas da União e dos Estados. O reajuste eleva o teto de salários de todo o funcionalismo público, produzindo o chamado “efeito cascata”.
Bolsonaro alertou que o país vive “uma fase em que, ou todo mundo tem, ou ninguém tem” e que “o Judiciário é o mais bem-aquinhoado entre os Poderes”. Não adiantou: senadores foram pressionados por ministros do STF e pela própria Raquel Dodge.
O presidente do Supremo, Dias Toffoli, agradeceu ao Senado, prometendo, em contrapartida, pautar o fim do auxílio-moradia para juízes. Já o presidente do Senado, Eunício Oliveira, negou que a votação fosse uma pauta-bomba contra o novo governo.
O aumento foi agendado depois que Paulo Guedes, ministro da Fazenda de Bolsonaro, falou em dar uma “prensa” no Congresso para aprovar a reforma da Previdência, se os parlamentares não quiserem assumir a culpa de entregar novamente o poder ao PT.
A declaração causou mal-estar, e o troco, negado peremptoriamente, veio a galope. Mostrou à nova equipe de governo como funcionam as coisas em Brasília, realidade que Bolsonaro conhece bem. Ali, o que prevalece são os interesses pessoais, e não os da nação.
O momento é propício aos membros do Poder Judiciário. São poucos os parlamentares que não estão na mira da Justiça. Quase todos os senadores do MDB e do PSDB seguiram a orientação de seus partidos, votando a favor do aumento para os juízes.
Curiosamente, siglas de oposição a Bolsonaro é que atenderam o pedido do presidente eleito.