Caso Embraer
A venda de 60% da Embraer à Boeing anda aos trancos e barrancos, alvo de questionamentos por toda parte: CVM, TCU, Congresso etc. Já se levantam dúvidas sobre sua efetivação, uma vez que o negócio requer o aval do governo brasileiro, dono de ações com poder de veto na Embraer. O acordo corre risco de melar se a decisão ficar para o próximo governo, que pode rejeitá-lo dependendo do eleito. O negócio não poderia mesmo passar sem celeuma. Trata-se de um assunto de Estado, caso emblemático da crise de confiança do Brasil e uma das decisões definidoras do futuro do país.
Mão beijada
Os termos do negócio são desfavoráveis à Embraer, tanto que as ações da empresa caíram e os investidores chiaram. Grosso modo, a brasileira está entregando o ouro: uma divisão de jatos, segmento em que é líder, passará para empresa controlada pela Boeing. A Embraer está sendo engolida pela rival dos EUA. Isso a preço visto como barato, em momento de disparada da moeda americana frente à brasileira. Para a Boeing, se melhorar estraga. Do plano original, o que não está dando certo é a parte em que o governo mais impopular da história dá a bênção final. A gritaria amplificada pelas eleições pode travar o processo como já prevê a mídia estrangeira.
Vira-lata X potência
O acordo das fabricantes de aviões tem apoiadores de peso como Meirelles, o presidenciável do MDB, que preparou o terreno para venda das ações do governo na Embraer antes de deixar a Fazenda. O argumento pró-venda é que a brasileira não teria condições de competir com Bombardier e Airbus, que se uniram e ontem lançaram um jato para competir com a Embraer. Naturalmente, a Boeing também enfrenta disputa feroz e se vê espremida no mercado. Mas, não se cogita o inverso: a Embraer engolindo a Boeing. A brasileira deu conta de competir até aqui, detém o mercado visado, é a 3ª no mundo. O problema é que o Brasil é vira-lata e os EUA superpotência.
Fim de um sonho
Em editorial, o tradicional “Diário do Comércio” previu que o Brasil ‘perderá fatalmente’ o centro tecnológico instalado em São José dos Campos para a Embraer, cuja fábrica se reduziria “quando muito” a uma “plataforma de montagem”. O jornal fala em fim de um sonho e de uma marca. De fato, poucas empresas expressam tão bem a aspiração nacional por um Brasil mais avançado e sofisticado. Ao abandonar esse sonho, o Brasil se resigna a ser apenas e eternamente um produtor de commodities.
Fuga de cérebros
O negócio com a Boeing, se vingar, deve estimular a fuga de cérebros para os EUA, um fenômeno que já vem intenso há quatro anos. Hoje, o grosso dos nossos migrantes (93%) tem formação superior ou pós-graduação.
Aposta furada
A estratégia de atrair capitais de fora com a venda de empresas nacionais não tem dado certo. Segundo órgão das Nações Unidas, investimentos estrangeiros diretos caem há três anos na América Latina; em uma década, o recuo chega a 20%. Apesar da forte desnacionalização de ativos, o Brasil foi um dos maiores responsáveis pelo tombo latino, com recuo de 9,7% em 2017.
Luciene Teixeira, Marinês Rezende e Márcia Werneck
Hora de decisão
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, desembarca hoje em Recife para dar enfim um desfecho à novela do acordo com o PSB, que não ata nem desata há meses. Para o sim ou o não, passou a hora de resolver a situação, tanto do ponto de vista dos petistas como dos socialistas. O fechamento ou não do acordo influenciará diretamente a campanha mineira: se PT e PSB se unirem, Marcio Lacerda não poderá disputar o governo contra Pimentel.
Entre mulheres
Em nome de Lula, Gleisi vai conversar com governador, dirigentes do PSB e vários interlocutores em dois dias. Mas, as pessoas com as quais ela irá, de fato, decidir a parada são outras duas mulheres: Marília Arraes, do PT, que precisa sair da disputa do governo para que o acordo ocorra, e a viúva de Eduardo Campos, Renata, uma desafeta da petista e dona da palavra final no PSB.
Imponderável
Gleisi, Marília e Renata são conhecidas pelo temperamento forte. Com três mulheres tinhosas e determinadas dominando as negociações, impossível um prognóstico. Pode dar qualquer resultado.