O que dizer da Minas do século XXI, que vem encolhendo economicamente ao mesmo tempo em que afunda em dívidas e no descrédito?
Já passaram por aqui figuras como Juscelino Kubitschek, Rondon Pacheco, Israel Pinheiro, pessoas que brigavam para atrair investimentos e estender tapetes ao progresso e ao desenvolvimento. Personalidades que tiraram Minas do buraco e saíram do mandato com patrimônio menor do que tinham ao entrar, sem qualquer processo nas costas ou desconfiança de enriquecimento ilícito.
Minas caiu, nos últimos 20 anos, do segundo para o quarto lugar em importância econômica no país. O resultado é uma sentença inapelável, para quem perdeu o bonde e os investimentos, o protagonismo, ficando vergonhosamente em silêncio, enquanto atividades econômicas eram levadas para outros Estados.
Os setores de mineração, siderúrgico, automotivo, de transformação e refino de petróleo perderam pesadamente em volume, valor e expressão. Exatamente seus setores mais pujantes foram rapinados. A Vale, nascida em solo mineiro, deixou de ser do “Rio Doce” e acabou com o mesmo rio; impune, repetiu o desastre com o rio Paraopeba, afluente do São Francisco. Desse último rio da integração nacional, Minas perdeu grande parte das águas, cedendo assim a possibilidade de irrigar milhares de seus hectares no semiárido menos desenvolvido do Estado.
O Polo Acrílico, que Lula garantiu para Betim em 2007, ao par da expansão da Fiat, migrou, no apagar das luzes de seu mandato, para Camaçari, na Bahia, e a produção automotiva, para Pernambuco, Estado natal dele, presidente. A planta de amônia prevista para Uberaba se desfez como um sonho. Minas, como a Roma da Idade Média, caiu no obscurantismo e foi saqueada por invasores que levaram suas joias e riquezas, seus anseios e esperanças, deixando ruínas para trás.
Enquanto a depredação acontecia, as lideranças do Estado se mantiveram mudas, como se o arrombamento acontecesse na casa de um inimigo distante. Os potenciais de mineração, siderurgia, automotivo, transformação química, irrigação foram retirados do Estado sem qualquer compensação, reivindicação, contrapartida. Mais de 20% do PIB real se perdeu. Pior, num período em que as despesas e os compromissos públicos aumentaram irresponsavelmente.
Minas tem a maior velocidade de afundamento num país que o Banco Interamericano de Desenvolvimento considera o que mais gasta com aposentadoria na América Latina. A Previdência consome 12,5% do PIB, e, se não houver mudança, o gasto se ampliará em quatro (50,1%), alcançando, em 2065, volume maior que a própria arrecadação pública. E por aqui, apesar das previsões de quebra, a elite do Estado continua imóvel. Não há sequer entidades de classe, representantes políticos, partidos que saiam de áreas de conforto para se insurgir contra a desfeita. Não se aperceberam, ou trocaram o silêncio por outras vantagens inconfessáveis?
Minas se afundou e apelou para o desrespeito da Constituição, adotando práticas do fim do mundo. Passou a subtrair, numa atitude criminosa inédita no Brasil, as minguadas receitas constitucionais dos municípios destinadas ao atendimento da saúde e educação básicas, que servem aos mais carentes.
E se hoje a situação financeira está ruim, a ausência de planos e propostas concretas deixa o horizonte tenebroso. O número de servidores inativos (aposentados) subiu de 146 mil para 264 mil em 12 anos, enquanto os ativos continuam estagnados em 400 mil, mas a folha aumentou em termos reais 50% no mesmo período, tornando-se impagável.
A relação de servidores públicos por habitantes em Minas é estupidamente fora de parâmetros em relação aos Estados em situação de regularidade. O Estado de São Paulo tem 1.470 servidores para cada 100 mil habitantes, enquanto Minas ultrapassa 3.150. E os serviços públicos em Minas são significativamente inferiores em qualidade e quantidade.
O governo recém-empossado, esmerado em críticas e propostas mirabolantes, esqueceu-se de se preparar com planos que enfrentem uma dívida de R$ 135 bilhões e um déficit anual superior a R$ 11 bilhões.
Pior é que, em Minas, cada setor organizado, pensa em seu naco, em seu ganho, em seu conforto. Vantagens injustificáveis em relação à carência da maior parte da população. Sem preocupação com o conjunto e com os lados mais desprotegidos. O Estado está sob risco de um caos, até porque oposições aqui existem torcendo para o pior.
É imprescindível que o governo consiga uma adesão ampla a um projeto necessariamente ousado e inadiável, que ainda não apresentou. É uma realidade histórica que a força, a credibilidade e o respeito de um governo sangram rapidamente se não se apresentarem no momento mais favorável: o começo.