Um governante que acha que sabe tudo nunca será bom ao país. A soberba lhe subirá à cabeça, e o bom senso não terá lugar. O bom senso nada tem a ver com o senso comum. Um está quase sempre distante do outro. O bom senso é intuitivo, liga-se à sensatez, tem alguma coisa a ver com a cultura e não envolve reflexão profunda. O bom senso é que o leva, leitor, a agir adequadamente diante de uma situação crítica. Coisa, aliás, difícil nestes dias conturbados nos quais vivemos. Para Aristóteles, o bom senso “é elemento central da conduta ética”. Achar o meio-termo não é fácil, nem é para qualquer um. Ter governante probo e sensato é o que mais necessita qualquer povo.
Admito que Jair Bolsonaro encare, com sinceridade, a probidade e a sensatez como metas. Todavia, fico preocupado quando o ouço na TV ou no rádio, ou ouço seu ministro da Economia, Paulo Guedes. Deixam-me a impressão de que não têm dúvidas, sabem tudo. Falta-lhes bom senso para dizer coisas de fato necessárias. Ou será que o que lhes falta é experiência em administração pública? Bolsonaro já voltou atrás mais de uma vez, e Guedes não realizará o plano de privatização anunciado na campanha. Falar antes de saber o que vai falar é arriscado. A linha que separa o sucesso do insucesso é tênue.
Uma boa notícia: o candidato a presidente derrotado em outubro, Fernando Haddad, em conversas por Nova York, além de dar sinais de que o novo governo pode dar certo, disse que a oposição não deve nem pode torcer para que ele dê errado: “A gente tem que trabalhar com a hipótese de eles darem certo, e de a gente dar mais certo do que eles”, esclareceu o ex-prefeito de São Paulo. Haddad está mostrando hoje, depois de enorme fiasco, que ainda tem algum bom senso. Por isso, propõe oposição mais consciente do seu papel, e não raivosa, como deseja a estridente presidente do PT, Gleisi Hoffmann.
O futuro ministro da Casa Civil, deputado Onyx Lorenzoni, anunciou, na última segunda-feira, que o governo Bolsonaro terá 22 ministros, e não 15, conforme disseram na campanha. Além dos ministérios, virão outras secretarias, que provavelmente custarão ao país o mesmo que custam os 29 ministérios de Michel Temer (que tem muito menos do que tiveram Lula e Dilma). Enquanto candidato, o presidente eleito não percebeu que o país é bem mais complexo do que imaginava.
Os brasileiros que votaram no presidente eleito, em sua maioria, não o fizeram por ser ele contra a esquerda retrógrada que insistia em botar mordaça no país, nem muito menos porque, por ser militar da reserva, o acusam de pertencer a uma direita burra e radical e, por isso, também retrógrada. Votaram nele porque estavam cansados do mal que boa parcela dos políticos vinha fazendo ao país há muitos anos, mas que, de uns anos para cá, se agravou profundamente, a ponto de desunir os brasileiros ao botar em prática o bordão do ex-presidente Lula. Foi o “nós contra eles” que lhes acirrou os ânimos e provocou angústia e medo.
Depois desse “tsunami, que varreu o sistema político brasileiro”, e da vitória de Bolsonaro, “que acabou de quebrar o que estava em decomposição”, como afirmou, em artigo, o ex-presidente Fernando Henrique, o povo quer um “novo caminho”. Quer um governo saneado, que não dê tréguas à corrupção e se dedique, sobretudo, como primeiríssima meta, à educação, à saúde, à segurança e ao emprego.
Enfim, nem comunismo, nem fascismo, mas liberdade. Só com ela construiremos uma nação alegre e feliz. Que venha já 2019!