Criou-se no Brasil a ideia de que jornalista apenas critica, e, raramente, ajuda a construir boas políticas públicas. Nem sempre é assim. Em 1986, eu tinha como hábito debater ideias com o jornalista Gilberto Dimenstein, então diretor da "Folha de S.Paulo" em Brasília.
Naquele ano, como reitor da UnB, criei a estrutura dos Núcleos Temáticos e coordenava o Núcleo de Estudos do Brasil Contemporâneo. Esse grupo reunia professores, alunos, diplomatas, servidores públicos, empresários e o público em geral para debater formas concretas de enfrentar os problemas do Brasil. Em uma das reuniões, quando se discutia como resolver o problema das crianças fora da escola, sugeri pagar aos pais, sob a condição de que seus filhos estivessem na escola.
Houve uma grande surpresa. Algumas pessoas disseram que não fazia sentido pagar bolsa para crianças estudarem. Lembrei que à mesa estavam doutores que receberam bolsas de estudos para continuarem estudando, mesmo depois de formados. Por que não para quem não estudava ainda? Outros disseram que custaria muito, e mostrei que aquele custo era muito menor do que muitos outros gastos menos importantes.
A ideia ficou no ar, mas, no outro dia, já estava discutindo-a com Gilberto Dimenstein. Com ele, a ideia foi sendo fortalecida e detalhada. Gilberto já era um entusiasta das ideias alternativas para combater a pobreza, ainda mais as dirigidas a crianças e jovens, por meio da educação. Foi dele a ideia de complementar a remuneração à família contra a frequência às aulas com uma renda adicional para cada criança aprovada, que, mais tarde, transformei na Poupança-Escola.
Além de ser um interlocutor que dava ideias, Gilberto foi o primeiro a divulgar a proposta além da universidade. E o fez através dos veículos de comunicação, e também em palestras e conversas com personalidades de todo o Brasil. Também fez a primeira recomendação da ideia fora de Brasília, ao me apresentar, em 1992, ao recém-eleito prefeito de Campinas, José Roberto Teixeira. Fui a Campinas apresentar a ideia e ajudar a formular sua implantação, assim como diversas outras cidades, como Recife. Já surgira, então, o nome Bolsa Escola, que formulei na campanha para governador em 1994.
Esse verbete, hoje, faz parte do dicionário do desenvolvimento social no mundo todo, graças a uma matéria na revista "Time", de dezembro de 1995, sobre o programa do Distrito Federal. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Banco Mundial, a Unesco e a Unicef também adotaram a ideia e o nome.
Foi de Gilberto também a ajuda para convencer o governo de Fernando Henrique Cardoso a adotar a ideia em todo o país. Levamos cinco anos até que, já no segundo mandato, o Bolsa Escola federal foi implantado. Em 2004, o presidente Lula deu impulso ao programa ao ampliar o número de beneficiários e trocar o nome para Bolsa Família.
Isso mostra que jornalista também é um promotor de boas ideias.
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