Na impossibilidade de aprovar a reforma da Previdência, o governo Temer resolveu dar um “golpe de mestre”, decretando intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro, então vivendo grave crise fiscal com aumento da escalada de violência.
Tomada sem uma preparação da opinião pública, mas apenas com a consulta ao governo do Estado, a iniciativa surpreendeu a nação, que avaliou o alto risco da operação, principalmente por convocar a participação das Forças Armadas, em especial do Exército.
De várias partes surgiram advertências ao governo de que a intervenção não poderia dar errado, embora tivesse tudo para dar errado. No entanto, o presidente resolveu apostar no apelo popular que ela teria, talvez para preencher o vazio do resto de seu mandato.
Cinco meses passados, durante os quais o governo criou um Ministério Extraordinário da Segurança Pública e o Congresso aprovou um Sistema Único de Segurança Pública, a intervenção no Rio não tem o que apresentar, a não ser intenções e relatórios no papel.
Na semana passada, o general Walter Braga Netto publicou uma portaria em que traça o planejamento estratégico da intervenção, lembrando seus objetivos de reduzir a criminalidade no Estado e recuperar a capacidade operativa dos órgãos de segurança.
Ambos objetivos não foram alcançados, diz o documento, mercê das críticas de grupos organizados e da falta de apoio da população. O documento afirma que não houve “liberdade de ação para as ações da intervenção federal, questionada desde sua decretação”.
Ao contrário, o que mais houve foi a reafirmação da política fracassada de enfrentamento aos criminosos, com aumento das “batidas”, invasões de morros e tiroteios, nos quais a maioria das mortes é constituída de civis, apresentados como traficantes e bandidos.
Se houve mudança com a intervenção, foi para pior, com mais violência e menos inteligência.