Reza a práxis jornalística que o bom texto na imprensa deve prescindir dos adjetivos. É o que normalmente se tenta praticar com um pouco menos de rigor nos cadernos de cultura, onde o tipo de assunto do meio nos permite, conforme a abordagem, comentários mais pessoais, ainda que contidos.
Com esse pé atrás da suposta isenção jornalística publiquei sexta-feira última na capa deste caderno Magazine uma reportagem sobre o lançamento do DVD e CD “(o vento lá fora)”, filme em que Cleonice Berardinelli e Maria Bethânia fazem leituras da poesia de Fernando Pessoa.
A diferença, agora, é que no espaço desta coluna, em que cabe até a ficção, não é preciso ter pudor para elogiar o trabalho dirigido com delicadeza (olha o adjetivo aí!), por Marcio Debellian.
O que se vê no filme é as duas se extasiando com a oportunidade de se dedicarem a uma paixão mútua: a obra do poeta português. Cleonice, ou Dona Cléo, de 98 anos, é considerada a maior especialista em Pessoa no Brasil. Bethânia, que já havia musicado versos dele, é toda olhos e ouvidos para a professora.
Entre um poema e outro, Dona Cléo vai tecendo leves e muito interessantes comentários sobre Pessoa e também sobre os seus heterônimos Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis.
Quando chega, por exemplo, ao poema “Furia na noite o vento”, Cleonice dá uma breve aula. Primeiro, ela explica que não é Fúria, mas ‘Furia’ mesmo, um verbo que ele inventou. E continua: “Esse poema é um mimo porque, nele, Pessoa define o que a poesia é. Ele escreve, ‘Estou preso ao meu pensamento, como o vento preso ao ar’. Ora, se o vento é o próprio ar, como ele pode estar preso? Ou seja, o que ele fala é da poesia como pensamento em movimento. Uma regra de três completa, isto está para isso como isso está para isto e isto aqui sou eu”.
Dentre outros comentários, Dona Cléo define o heterônimo Álvaro de Campos como o divã de Fernando Pessoa, poeta em que ele descarrega seus sentimentos mais profundos e o único que fala palavrões. “Nem Pessoa falava palabrões, só ele”. Ricardo Reis foi o heterônimo mais difícil, antigo, clássico, com versos medidos, mas sem rimas, “o pagão da Renascença”. E Alberto Caeiro, a simplicidade do “Guardador de Rebanhos”.
O espaço acabou, só resta dizer que vale ter o DVD e o CD.
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