A morte do crítico musical José Domingos Raffaelli no Rio de Janeiro, no dia 26 de abril, aos 77 anos, vítima de um câncer, mexeu com uma turma numerosa em Belo Horizonte, na qual me incluo. É que durante nove anos, a partir de 2001, ele emprestou sua inteligência à comissão julgadora do Prêmio BDMG Instrumental, a convite da escritora e produtora Malluh Praxedes, que então coordenava o concurso. Com isso, passou a ser testemunha e incentivador dessa produção musical mineira, e por sua forma generosa de ser, fez por aqui muitos amigos, para sempre.
Reconhecido como um grande nome brasileiro da crítica musical, especialmente do jazz, Raffaelli costumava dizer, no período em que integrou o júri, que uma de suas maiores alegrias era quando chegava a época de vir do Rio para Belo Horizonte e participar do concurso.
Antes de conhecer o BDMG Instrumental o crítico atuou no “Jornal do Brasil” (1972 a 1987) e no jornal “O Globo” (1987 a 2002). Colaborou em diversas publicações nacionais e revistas estrangeiras, o que lhe rendeu o prêmio da International Association of Jazz Educators (IAJE), em 1999, como o melhor crítico desse gênero musical fora dos Estados Unidos. Venceu um concurso de abrangência internacional da revista norte-americana “Down Beat”, uma das mais importantes publicações dedicadas ao jazz.
Foi pouco depois que ele começou a vir anualmente para Belo Horizonte que meu amigo e meu ex-editor aqui neste Magazine, Antônio Siúves, também convidado a integrar o júri do BDMG Instrumental, conheceu pessoalmente Domingos Raffaelli. Quando veio conversar comigo sobre o concurso, Siúves também comentou sobre suas boas impressões do caráter do crítico musical. Houve um apreço mútuo, e Raffaelli passou a fazer colaborações para este caderno do jornal O TEMPO, o que ocorreu entre 2002 e 2003.
Alguns anos depois eu é que tive a honra de passar a integrar o júri do Prêmio, e foi quando conheci aquele senhor de cabeça branca e óculos, sempre simpático e solícito, ao mesmo tempo com o rigor necessário no momento de fazer suas análises sobre os músicos concorrentes. Nessas horas demonstrava serenamente todo o seu conhecimento.
Há muitas formas de se criar uma lembrança marcante de uma pessoa, e no caso do Raffaelli uma coisa que nunca esquecerei é sua preferência gastronômica pelo linguado do restaurante La Traviata. É comum, após o concurso, os jurados saírem para jantar, e nessa época sempre íamos ao La Traviata, na Savassi. Eu estava ao lado dele, e depois de pedir o prato ele comentou: “aqui só peço o linguado, é estupendo”. Nos dois anos seguintes em que participei com ele do júri foi inevitável observar, pois enquanto todos líamos o cardápio, Raffaelli já esperava o seu linguado.
Após as finais do Prêmio, Raffaelli era sempre procurado pelos músicos novos que queriam oferecer CDs, pedir para ele ouvir e dar opinião. O crítico era receptivo a todos, conversava e trocava contatos. Da mesma forma acontecia na relação fraterna dele com os músicos profissionais.
Em 2011, Domingos Raffaelli ganhou, em sua homenagem, um show em Belo Horizonte, no Teatro Sesiminas, idealizado por Malluh Praxedes e que contou com a participação de mais de 20 músicos, dentre eles Juarez Moreira, Nivaldo Ornelas, Túlio Mourão, Célio Balona, Cléber Alves, Mauro Rodrigues.
E a morte de Raffaelli aconteceu justamente no fim de semana em que ocorria a XIV edição do BDMG Instrumental. Eu soube pelo Tavinho Bretas, quando cheguei ao Teatro Sesiminas, e ele completou: “Infelizmente morreu hoje, então deve estar por aqui, vendo o Prêmio”. E naquela noite o falecimento foi devidamente anunciado no palco.
Relutei em ousar escrever sobre José Domingos Raffaelli, mas fica aqui a homenagem pelos mineiros que o conheceram.
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