Sabe aquela minha empolgação no início do ano para voltar à malhação, corrida, pilates e o escambau? Pois é, acabou.
Matriculei-me na academia três vezes por semana, com direito a caminhadas matinais, tênis novos e aquela sensação gostosa de começo de namoro, quando já acordamos alegres e dispostos. No espelho, pura cara de felicidade, “agora eu vou!”, as endorfinas nos tirando cedo da cama! Você no espelhão, se achando esportiva, linda e magra, até começar a sessão de abdominais e aparelhos maçantes, com o personal insistindo em aumentar o peso até suas pernas não aguentarem mais.
– Se não sentir dor, é porque o exercício não está surtindo efeito – diz uma amiga entendida nessas coisas.
E eu lá, enferrujadíssima, sendo desenferrujada na marra. “Aguenta firme!”, digo pro espelho, já de volta a casa. Suada, descabelada, dolorida e esfomeada. Será que aguento mesmo?
Aí chegou o inverno, meio fajuto, concordo, mas inverno. Aquela época do ano em que dá vontade de ficar mais meia horinha na cama, debaixo da coberta, pensando na programação do dia e aguardando o raio do despertador dar o segundo alerta, aquele que diz: “Agora chega! Anda logo, que você vai se atrasar!”
E, em vez de andar, a gente corre, porque, afinal, nossa vida e nossa agenda demandam corridas constantes. Não as dos fins de semana, com training e bonezinho, nem aquelas chatíssimas nas esteiras (que acabam virando cabides), mas corridas que se iniciam em casa: tomar banho, lavar o cabelo, secar mais ou menos, trocar de roupa (já separada no dia anterior), tomar café folheando o jornal, comentando as notícias com a família, que também já está correndo, beijinhos de despedida e tchau, tchau!
Do lado de fora, gente se exercitando, caminhando, pedalando, enquanto eu, de dentro do carro, escuto as notícias cabulosas da política na rádio Super Notícia. Nas ruas congestionadas, o caos me espera.
E me vejo xingando sozinha: “Quem me mandou largar a academia? Quem mandou marcar compromissos no mesmo horário da dita? Quem me mandou fazer matrícula somente para um mês e ainda por cima arrumar desculpas esfarrapadas para não ir? Quem mandou ser preguiçosa, odiar abdominais, achar que meia hora de esteira é uma eternidade e o personal, um torturador?
Pois é, assumo que minha tentativa fitness foi um fracasso. Mas não é a primeira vez nem será a última que o meu namoro com a academia termina abruptamente. Faltou química (ou “física”), sei lá. Sempre foi assim, não sei por que ainda insisto.
Nesta semana recomecei o pilates, que já fiz por dois anos consecutivos. Uau!
Se eu dissesse que sou apaixonaaaada por aqueles alongamentos, elásticos, bolas gigantes e estiramentos musculares, estaria mentindo. Trata-se de um namoro menos conturbado, menos “dolorido”, mais equilibrado, mais zen. Até renovei meu guarda-roupas com meinhas próprias para a atividade. A professora, um doce de pessoa, vai ter de ter paciência. Ando enferrujadíssima ultimamente. Não adianta me mandar esticar a perna até Marte, porque mal mal ela chega à lua. Aliás, ela é super de lua! Tem dia que vai, tem dia que não vai. Que nem eu. Mas dessa vez será diferente! Bola pra frente, menina! (Adorei esse “menina”!).
E, por falar em bola, estava vibrando com as zebras da Copa. Tenho uma amiga entusiasmada que assistia a todos os jogos e me ligava contando as novidades.
– Laurinha, vamos jogar com o Japão! Eles estão ganhando de 2 a 0 da Bélgica! Você acredita?
– O quê? Jura? – perguntei achando graça.
Daí a pouco ela mandou uma mensagem: a Bélgica virou. Ganhou de 3 a 2.
Pois é; zebra assim também era querer demais, pensei cá com meus botões. E, aos trancos e barrancos, lá fomos nós. Até cair, com Neymar e tudo, frente à própria Bélgica.
Voltando ao pilates, outro dia descobri com uma fisioterapeuta que minha coluna é meio torta. Ela até falou o nome da encrenca, mas esqueci. E ainda disse com convicção:
– Você deveria fazer RPG ou Gyrotonic.
– Gyro o quê??? – Já perguntei desconfiada. – Pelo amor de Deus, não me complica a vida. Deixa a coluna quieta no lugar. Nasci assim, deixa ela aí.
– O problema é esse, Laurinha, com o tempo a coisa pode piorar, aí vêm a dor, a artrose, a...
– Não, não e não!!! Uma coisa de cada vez. Primeiro eu desenferrujo, depois eu penso no resto.
E, com a cara mais boa do mundo, mostro a ela a minha nova meinha colorida de pilates, que, se Deus quiser estreio nesta semana.