Dia desses, ouvindo a rádio Super, é que me dei conta de que a Copa começaria nessa semana. “Uai, já??? Caramba!” E eu nem lembro o nome do nosso técnico, aliás, da seleção só me lembro do Neymar, até porque, além das páginas esportivas, o jogador não sai das colunas de fofocas da mídia.
O rapaz está em todas, diga-se de passagem. Namora, separa, fica, reata, troca... Nem sei mais os nomes das moças, quer dizer, das lindas, sensuais e globais do momento. Parece que agora ele sossegou.
Bobagem por bobagem, fico pensando nas Copas passadas. Uau! Que acontecimento era uma Copa do Mundo! Lembro-me de que, nos semáforos, camelôs vendiam bandeirinhas plásticas do Brasil para acoplarmos no retrovisor. As ruas tinham seu lugar de destaque, numa disputa de quem conseguia fazer mais barulho e poluição visual com adereços, bandeiras e faixas verdes e amarelas. Na TV, não se escutava outra coisa – Brasil zil zil zil... gritava o locutor enlouquecido, enquanto vivíamos nossos momentos de glória, expectativas e grandes emoções. Todos os anúncios publicitários batiam invariavelmente na mesma tecla, numa overdose de bolas, gols, jogadores idolatrados e companhia.
Até que veio a última Copa. Justamente aquela realizada no Brasil.
“Pra que fazer Copa aqui?”, pensava com meus botões. A gente precisando de tantas coisas estruturais, estradas, viadutos, hospitais... e tinha mesmo que construir estádios?
E pior: elefantes brancos superfaturados em cidades onde sequer existiam times de futebol. Empreiteiras nadando de braçada, políticos se esbaldando com o dinheiro farto e fácil, e a gente se lascando, “apanhando de goleada”, como diria o velho matuto.
E, como se não bastasse, dois anos depois vieram as Olimpíadas, para dar continuidade à farra dos megalomaníacos, do cimento superfaturado e das tantas obras que hoje já não servem a nada. Esqueletos de hotéis inacabados, estruturas despencando no esquecimento, dinheiro jogado pelo ralo da incompetência, da ladroagem e da safadeza. E ainda pretendiam que comemorássemos!
Comemorar o quê? Afinal, também queríamos nossa saúde, educação e segurança no padrão Fifa. Mas cadê?
E ali ficamos, expectadores estupefatos a ver navios, ou melhor, bolas oponentes nas redes de nossas esperanças. A goleada foi tão grande que até hoje, quatro anos depois, não encontramos ânimo para entrar no jogo, no ritmo e no espírito da coisa.
Ainda nenhuma bandeirinha nas janelas, camisetas ou ruas coloridas de verde e amarelo. Não existe clima, não existe dinheiro, não há paciência nem entusiasmo para ser como antes.
Hoje, poucos sabem de cor os nomes dos jogadores, mas, em compensação, dos magistrados do STF conhecemos todos. Outros tempos, novos conceitos. É a consciência se formando em quem já começa a se defender das bolas adversas. E isso é muito bom.