Domingo de manhã, volto do sacolão onde normalmente compro frutas e verduras.
Quando me casei, era uma péssima dona de casa, principalmente no quesito culinário. Como na casa de meus pais a única verdura de que eu gostava era couve, naturalmente era a única que conhecia bem. E essa minha ignorância hortifrutigranjeira refletiu-se em pequenas dúvidas, compras equivocadas e muitos risos da cozinheira bem-humorada.
– Laurinha! Que quiabão é esse?
– Você viu? Foram os maiores que encontrei... – dizia satisfeita.
Não sabia que quiabos, abobrinhas e afins quanto menores, melhores. Fazia tudo ao contrário. Isso para não dizer que vivia trocando alhos por bugalhos, coentro por salsinha, rúcula por espinafre...
Com o tempo, passei a apreciar outras verduras, legumes e vegetais, assim como conhecê-los bem, até porque, em nossa mesa, a “carne” que se serve é a de soja.
E é com horror que minha filha mais velha, vegetariana desde os 11 anos, retornando de uma viagem à China, contou de suas andanças pelos mercados abertos daquele país, onde escorpiões vivos fincados no espeto, cachorros, cobras e enguias fazem parte dos alimentos exóticos apreciados pelos clientes locais, assim como insetos, larvas, macacos e uma variedade de animais colocados à venda, no maior açougue aberto que já se viu na vida. O cheiro impregnante e a visão do lugar fizeram com que ela voltasse correndo ao hotel. Num país onde há 1,3 bilhão de bocas para se alimentarem, é natural que tudo, ou quase tudo, vire alimento.
Num evento empresarial, minha filha teve dificuldades para comer: a sua frente, cabeças de passarinhos fritas, um peixe que ainda mexia no prato e um ovo marrom-esverdeado de aparência suspeitíssima. Pelo fato de ser vegetariana, livrou-se de maiores constrangimentos. Comeu legumes.
À noite, sozinha em seu quarto, lembrando-se do “mercado de horrores” no qual entrara por engano, passou mal. Um mercado daquele para uma vegetariana convicta, que não mata sequer uma aranha, era dose cavalar. Aliás, eles também, os cavalos, fazem parte do cardápio chinês. Assim como os burros, cujos pedaços eram retirados e vendidos com o animal ainda vivo. Ao escutar esses fatos, também me senti mal – cenas chocantes e incompreensíveis aos nossos olhos ocidentais. Apesar das dificuldades, sobretudo com a culinária, minha filha encontrou um país admirável e surpreendente.
E eu, após ouvir seus relatos, chego à conclusão de que bom mesmo é o “mercado das delícias” chamado sacolão, onde couves, alfaces e frutas frescas nos convidam à mesa.
No último dia 19, participei como uma das palestrantes do “I Seminário de Defesa Animal e Bioética”. Uma iniciativa do deputado Fred Costa que abriu o evento falando sobre políticas públicas para a Defesa Animal. Da minha parte, mais que uma palestra, foi um bate-papo, em que contei, de maneira informal, sobre meu amor e respeito aos animais, com histórias vividas desde minha infância e juventude até os dias de hoje. Amor que eu e meu marido conseguimos repassar às nossas filhas de forma natural, bonita e verdadeira. E fico pensando no quão distante da China estão os direitos dos animais.