Dois de novembro de 1999. Lembro-me perfeitamente desse dia. Era feriado e eu estava voltando de Ouro Preto com um amigo. Ao passarmos em frente ao Ponteio Lar Shopping, ele olhou, viu o shopping todo enfeitado de luzinhas de Natal e falou: “Natal, já? Tenho medo dessas coisas”.
Depois disso, todo ano, quando começam a aparecer as tais luzinhas – cada vez mais cedo – eu penso que isso realmente dá muito medo. Não que eu não goste de Natal, muito pelo contrário, eu adoro. O que me assusta é a velocidade cada vez maior com que os meses passam. O Natal do ano passado foi praticamente ontem. E, de repente, eu me espanto ao perceber que já estamos novamente em novembro e que as tais luzes de Natal já estão aí para me lembrar de que “ontem” já passou há um século, eu é que não vi, estava muito ocupada tentando correr na mesma velocidade do tempo.
Lembro que, quando eu era pequena, os anos custavam a passar. Eu era louca para o Natal chegar bem rápido, mas o ano durava uma eternidade. Meu aniversário então... Eu ficava com a mesma idade uma vida inteira! Agora, mal passou a comemoração e já vem outro e outro e outro e estou vendo a hora em que vão me matricular em um clube de terceira idade.
O que assusta é que isso não é só impressão minha. Todos os dias eu escuto alguém comentar que o ano está voando... É como se já acordássemos atrasados e fôssemos dormir preocupados porque o dia não foi suficiente para fazer tudo. Como explicar tal fenômeno se o relógio mostra direitinho os minutos se passando, o calendário exibe dia por dia, e as horas continuam do mesmo tamanho dos outros anos?
Acho que a culpa dessa sensação é o volume de tarefas a que nos incumbimos e da diversidade de opções que temos hoje em dia. Antigamente, as pessoas estudavam, se formavam, trabalhavam e pronto. Ficavam naquele trabalho pela vida toda, com o resto do tempo pra preencher com o que quisessem. Agora, mal nos formamos e lá vem a pós, o mestrado, o concurso, o emprego de três turnos... E no fim de semana ninguém mais fica em casa curtindo a família, já que tem o bar, a festa, o jogo de futebol, o show, o cinema... Quando aparece um minuto sem nada pra fazer, já ficamos desesperados pensando que estamos perdendo tempo e tratamos de arrumar um jeito de nos ocupar. Imagino que por isso vem essa sensação de que os dias estão voando, quando na verdade somos nós é que estamos em disparada e não ficamos nem um minuto de papo para o ar, observando o tempo passar.
Eu precisava de pelo menos um ano de férias só pra colocar minha vida em ordem. Essa correria é ainda pior para uma pessoa ansiosa como eu, que planeja cada passo com 15 dias de antecedência. Tem tanta coisa que eu tenho que fazer e quando percebo já é hora de dormir, fica pra amanhã, e o amanhã já tem suas próprias demandas e acaba que as coisas vão sendo deixadas para o ano de 2054.
Preciso desesperadamente arrumar meu quarto; responder a uns 500 e-mails que estão esperando retorno; começar (e terminar) uns dez livros que estão na minha cabeça e loucos para ir para o papel; fazer ginástica; estudar outras línguas; atualizar os sites dos meus livros; terminar a música que eu comecei a fazer para uma personagem, crente que ia terminar antes de o livro ser lançado, mas acabou ficando para o dia que der tempo de ela ficar pronta; passar mais tempo com a minha família e namorado; ligar mais pra minha madrinha; visitar mais a minha avó; sair mais com as minhas amigas; ir ao cinema ver os filmes que já estão saindo de cartaz; colocar em dia todos os episódios que eu perdi dos seriados que tento acompanhar...
Eu planejava e precisava fazer tudo isso antes deste ano acabar... Mas, pelo visto, vai ficar tudo para o ano que vem.
Além de todos esses afazeres, tem um fixo de todas as semanas: escrever a minha coluna para o jornal O TEMPO. Ufa, esse deu tempo. Menos um na lista. Pelo menos até o próximo sábado...
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