A economia brasileira está saindo lentamente de sua profunda recessão, que deixou mais de um quarto de sua força de trabalho desempregada ou subempregada, déficit público, que se estenderá por mais de meia década, e dívida pública bruta chegando ao valor total do PIB. O Estado é ineficiente e perdulário, capturado por interesses corporativos, absorvendo mais de 32% do que o país produz; o crédito inacessível pelas exorbitantes taxas de juros; e a produtividade está estagnada. Se seu tamanho é invejável, pois está posicionada entre as dez maiores economias do mundo, a desigualdade é vergonhosa, já que no ranking do IDH situa-se na 79ª posição.
Acelerar o crescimento sustentado não é questão fácil, tampouco tarefa para ser realizada em uma administração ou enfrentada com voluntarismo. As propostas sobre economia, precariamente mencionadas pelos candidatos a presidente, podem ser, grosso modo, divididas em dois grupos opostos. Um propondo maior intervenção do Estado, mais expansão dos gastos públicos e mais impostos; outro, ao contrário, prometendo cortes de gastos, reformas, como da Previdência, privatizações e maior protagonismo do mercado. Um acredita que o Estado resolve tudo, o outro supõe que apenas a confiança do mercado será suficiente para pôr a casa em ordem.
Lamento, mas o desafio do crescimento econômico é bem mais complexo e exige aprender com as experiências exitosas de outras economias emergentes.
Na semana passada, o McKinsey Global Institute divulgou relatório detalhado sobre o crescimento nos últimos 50 anos de 71 economias emergentes. Dentre elas, 18 têm desempenho excepcional; sete economias, incluindo China, Coreia do Sul, Malásia e Singapura, de 1965 a 2016, experimentam consistente crescimento anual da renda per capita, acima de 3,5%; as outras 11, entre as quais Vietnã, Etiópia, Índia, Azerbaijão e Usbequistão, nas últimas duas décadas, obtiveram expansão da renda média per capita acima de 5% ao ano.
Os resultados para as 71 economias exibem padrões regionais bem distintos. Aqueles sete países com melhor desempenho estão localizados no Leste Asiático, e todos os países latino-americanos estão patinando entre os 30 com performance mediana.
O Brasil está no subgrupo inferior dos medianos, com crescimento volátil, juntamente com Argélia, Angola, Argentina, Grécia, Guatemala, Honduras, Irã, Jordânia, México, Nigéria, Quênia e Paraguai. A expansão anual da renda per capita do Brasil, nos últimos 50 anos, foi de 2,1% e de apenas 1,2% nas duas últimas décadas.
Essas diferenças regionais não são explicadas por aspectos puramente geográficos, mas por escolhas de estratégias e políticas governamentais feitas ao longo do tempo, conforme mostram Agemoglu e Robinson no livro “Por que as Nações Fracassam?”.
Uma das diferenças fundamentais entre os 18 países que não fracassaram e o Brasil é a relação entre os setores público e privado. Lá, em vez da oposição Estado-mercado, a aliança entre os dois tem sido fator propulsor do crescimento. Os países que tiveram sucesso desenvolveram agendas pró-crescimento por meio de esforços conscientes para ação conjunta do governo e da iniciativa privada, estimulando aumento da produtividade, melhor qualidade da educação, investimentos em novas tecnologias, eficiência do governo, abertura comercial e expansão de empresas globais. Aqui, o confronto tem levado à volatilidade do crescimento.
Lições como essas devem ser aprendidas por quem quer liderar um país que perdeu o sentido do crescimento.