A economia brasileira no primeiro semestre passou por dois momentos distintos. Nos primeiros três meses do ano, o clima era de otimismo. A mediana das estimativas do mercado, no fim de fevereiro, previa crescimento do PIB em 2,9% neste ano, conforme indicava o Relatório Focus, do Banco Central. A inflação continuava abaixo da meta, e o Banco Central mantinha a taxa básica de juros em seu menor nível até então registrado. No âmbito internacional, o otimismo reinava, com previsões de expansão da economia mundial em 3,9% para 2018 e 2019.
No entanto, no segundo trimestre, a trajetória de crescimento no Brasil foi abalada pelo solavanco na economia em maio, que estancou a expansão do PIB e elevou a inflação.
A Petrobras havia mudado sua política de reajuste dos preços dos derivados de petróleo para nova estratégia de correções diárias. Em maio, a infeliz combinação de elevações nos preços internacionais do petróleo com rápida valorização do dólar resultou em fortes aumentos diários nos preços dos combustíveis e, em consequência, cresceram a desconfiança e a incerteza em relação à previsibilidade sobre o futuro dos custos do transporte de cargas. Em cenário de instabilidade política, esses eventos foram o estopim para a paralisação dos caminhoneiros, que travou a economia e deflagrou aumento nos preços.
O índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-br) recuou 3,3% em maio, e o IPCA de junho atingiu 1,3%, três vezes maior do que o 0,4% de maio. O dólar beirou os R$ 4, e a Bolsa despencou.
Incerteza, desconfiança e pessimismo tomaram conta da economia. A mediana das estimativas do PIB para 2018, segundo o Relatório Focus, acumulou oito semanas consecutivas de cortes, até chegar a 1,5% no fim de junho.
Os indicadores de julho sugerem que a economia está voltando lentamente à normalidade. O dólar comercial terminou o mês passado com desvalorização acumulada de 3,2%, após cinco meses seguidos de alta, e o índice Ibovespa encerrou julho com valorização acumulada de 8,9%, depois de dois meses de queda. A produção industrial, que havia sofrido em maio último sua maior retração dos últimos 12 meses (-10,9%), voltou a se recuperar, crescendo 13,1%, em junho. Assim, retornou rapidamente ao caminho da expansão, cujo acumulado de 12 meses chegou a 3,2%. No primeiro semestre deste ano a indústria cresceu 2,3%. Evidência de que o impacto do solavanco de maio está sendo superado, muito embora o crescimento da economia esteja mais lento do que se previa no início do ano. Ufa!
Por fim, em julho o Banco Central manteve inalterada a taxa Selic, em 6,5%. Em seu comunicado, a autoridade monetária informou que “indicadores recentes da atividade econômica refletem os efeitos da paralisação no setor de transporte de cargas, mas há evidências de recuperação subsequente. O cenário básico contempla continuidade do processo de recuperação da economia brasileira, em ritmo mais gradual do que aquele esperado antes da paralisação”. As expectativas da inflação para 2018 e 1019 continuam ligeiramente abaixo da meta estabelecida pelo CMN. Assim, o Banco Central continua mantendo sua estratégia de política monetária estimulativa, fixando a taxa básica de juros abaixo da taxa estrutural.
Se o pior já passou, ficou a lição de que a economia está vulnerável aos riscos decorrentes de sua frágil infraestrutura de transportes e, também, às incertezas na arena política até outubro.
Sem serem definidos os rumos futuros do país, crescimento lento e volatilidade marcarão a economia.