Há alguns anos, os modelos cupês – aqueles de duas portas, mas com bagageiro ou porta-malas destacado – eram preferência nacional. Não se cogitava comprar automóvel a não ser com esse tipo de carroceria. Isso é explicado em parte porque o consumidor brasileiro sofreu forte influência europeia em seus hábitos de consumo, em tratando-se de veículos.
Essa tendência perdurou até o começo dos anos 80, quando surgiram opções como o Monza de três volumes, entre outros, que chegaram ao mercado para revolucionar o gosto do brasileiro. Daí para frente tudo foi diferente. Na década seguinte, a abertura do comércio que permitiu a entrada de importados trouxe a reboque um mundo até então inimaginável aos compradores do já citado Monza, do Santana, do Del Rey e assemelhados.
Carros de todos os tamanhos, com design dos mais variados e com tecnologia nunca acessível ao brasileiro fizeram com que as ruas do país – àquela época do começo do governo Collor – mais parecessem uma fauna, tanta a diversidade de marcas e modelos.
A farra teve data de vencimento e, aos poucos, muitos importadores iam deixando pelo caminho milhares de consumidores, órfãos de assistência técnica e peças de reposição. As maravilhas do primeiro mundo só conseguiam se manter em atividade por meio da canibalização de outros modelos similares. Mas o caminho não teria retorno, e a indústria brasileira passou por uma evolução jamais vista na história.
A exigência do novo comprador de automóveis estava a cada ano mais consolidada, e foi neste momento que passamos a conviver com a democratização da tecnologia. Itens de conforto e segurança foram incorporados aos modelos, independentemente de seu tamanho ou motorização.
Um exemplo pontual é o já descontinuado Mille ELX: nascido para ser popular, disponibilizava direção hidráulica, vidros e travas com comandos elétricos e até ar-condicionado. Ainda que pese o fato dos preços desses equipamentos serem altos pela falta da produção em escala, só a possibilidade da oferta era um grande avanço, ainda mais quando voltamos aos tempos da Brasília e do Fiat 147.
Outra evolução nessa seara da tecnologia diz respeito ao câmbio automático. Antes um privilégio dos automóveis de grande porte e hoje acessível em compactos como Onix, Prisma, Sandero e Novo Fiesta, por exemplo. Sem falar na exigência que obriga todos os automóveis a saírem da fábrica com a bolsa dupla de ar e sistema de freios dotados de ABS, que impede o travamento das rodas no momento de uma freada brusca.
Agora, quem dita regras e a preferência do consumidor são os SUVs, ou os esportivos-utilitários que de esportivos nada têm. Tendência do mercado que aponta nos próximos anos uma participação de 20%. Basta olhar em nosso redor para verificarmos a veracidade da informação. E isso é só o começo de um novo tempo que se descortina aos olhos dos consumidores, cada vez mais exigentes e cientes de suas preferências e direitos. É esperar para ver.
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- Raimundo Couto
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Na roda da evolução
Carros de todos os tamanhos, com design dos mais variados fizeram com que as ruas do país mais parecessem uma fauna
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