Se Deus escreve certo por linhas tortas, isso ficou ainda mais comprovado na semana que passou. Para nós, da imprensa especializada, seriam dias especiais, afinal nossas atenções estariam concentradas no Salão do Automóvel de São Paulo, evento muito aguardado.
A 30ª edição do evento ficará marcada para sempre em minha memória e na de muitos colegas, não somente pelo que está sendo exibido na mostra paulistana, mas, principalmente, por uma nota triste: o último encontro com um grande amigo e incentivador: o jornalista José Roberto Nasser. Ele também esteve presente nesta cobertura, mas não teve tempo de publicar sua sempre bem-escrita coluna semanal, “De Carro por Aí”. Nasser sofreu um infarto fulminante, na noite de quinta-feira (8), e nos deixou, prematuramente. Nesta edição da Intercâmbio, revivemos um pouco de sua paixão pelos automóveis e por sua filha Isabela em um acontecimento ocorrido há alguns anos, por ocasião do encontro de carros antigos que acontece em Araxá. Republico o texto na íntegra, como uma despedida ao amigo Nasser, que sempre me foi muito caro a mim e ao meu saudoso pai.
“Minha história na cobertura especializada em automóveis certamente começou por influência de meu pai, jornalista Raimundo Couto e Silva, que foi um dos pioneiros do setor no Brasil. Por muitos anos assinou sob o pseudônimo de V. de Ouro Preto uma coluna sobre o tema, abrindo e desbravando uma trilha então desconhecida, para que novos profissionais da imprensa estreassem na área. Mas não é com ele que vamos ocupar este espaço hoje. Da mesma forma que ele me transmitiu a paixão e o amor pelas quatro rodas, segue no mesmo caminho de seu pai a jovem cineasta Isabela Nasser, que vem a ser filha do competente (dono de um refinado e peculiar estilo) jornalista de Brasília, José Roberto Nasser, atual detentor do prêmio Lalique, um importante reconhecimento por parte dos colecionadores. Ao me despedir de Nasser, ainda no Grande Hotel, e fazer mais uma de minhas muitas consultas ao professor, ele foi enfático: ‘O que mais me deixou feliz neste encontro foi a certeza de ver – ao ser premiado o carro de Isabela – que eu consegui passar a minha filha o sentimento de amor que nutro pelo automóvel’. Nasser se referia ao Simca que ganhou prêmio de destaque pela conservação e originalidade no evento. O carro é de Isabela, e, com o mesmo esmero e carinho que seu pai cuida de sua coleção, sua filha começa a demonstrar que o cinema deve perder, em breve, uma talentosa e bonita colaboradora. Historiador, com vários títulos publicados, é o automóvel brasileiro a especialidade de Nasser e, como, em maio, o Simca completou 50 anos de vida no país, o jornalista ocupou alguns de seus prestigiados espaços na mídia abordando detalhes sobre a data. Parabéns Simca, parabéns Nasser, por mostrar o caminho para Isabela”.
Descanse em paz, meu amigo Nasser!