Não é de hoje que a militância de esquerda, mais precisamente a petista, desanca a imprensa nas redes sociais e em blogs de claro viés ideológico. Cunharam até mesmo a expressão “Partido da Imprensa Golpista”. Nesta eleição, porém, há um fenômeno mais novo: a direita que adotou Jair Bolsonaro (PSL) passou a usar tática semelhante, combatendo com voracidade aqueles que produzem informação no Brasil.
Não estou aqui para fazer uma mera defesa da classe. Longe de mim deixar de lado que há excessos no que é publicado e que, a depender do veículo do qual se fala, conteúdos ideológico ou econômico podem misturar-se ao verdadeiro jornalismo destruindo seus principais valores.
O que se vê hoje no Brasil, porém, vai muito além da simples crítica ao viés que um texto daqui ou dali pode ter. Há uma verdadeira patrulha sobre a imprensa e uma máquina de bastidores construída para desacreditar tudo aquilo que é dito sobre determinados candidatos. E isso é perigosíssimo para a democracia.
Li hoje, em meio a tantas críticas a reportagens da imprensa nos últimos dias, que “todo jornalista é corrupto” e que “quando ele vencer, vão todos perder o emprego”. O que se quer dizer com esse tipo de generalização? Claro que há jornalistas desonestos. Como há médicos, advogados, pedreiros, engenheiros. O mesmo vale para as empresas. Ninguém está a salvo de comportamentos humanos desviantes. Mas generalizar e achincalhar, por interesses políticos, tudo o que é publicado é grave para a democracia.
A imprensa e o trabalho jornalístico devem ser livres. Ainda que se discorde deles, é preciso que isso esteja calcado em fatos, e não em preconcepções construídas em grupos de WhatsApp. Na era do que se passou a chamar de “pós-verdade”, um militante radical quer que o conteúdo produzido pelo submundo da campanha política suplante o profissional trabalho jornalístico que tanto serviu como base para investigações e mudanças profundas no país.
O absurdo do ataque indiscriminado aos meios de comunicação e a seus operadores chega a gerar situações bizarras, como a da jornalista de Belo Horizonte que teve sua vida devassada e seus dados tornados públicos simplesmente por ter o mesmo nome de uma repórter de um jornal paulista que publicou matéria sobre determinado candidato. Ainda que fosse a autora do texto, o que não é o caso, tratou-se de evidente ameaça à liberdade de expressão. Até porque, o que os militantes chamam de “fake news” é a mera reprodução de uma informação presente em documentos oficiais. O fato de autora da acusação ter mudado suas concepções ao longo dos anos, por qualquer motivo, não muda a realidade do que ela declarou no passado. A jornalista em questão nada criou.
É preciso que as pessoas reflitam em um momento como este. O discurso fácil de que tudo que não nos interessa é “fake news”, que é tudo “intriga da oposição”, que a imprensa é de esquerda ou de direita, só interessa aos próprios políticos. Nunca ao cidadão, que precisa saber o que fizeram e o que estão fazendo aqueles que querem cuidar de nosso dinheiro. E se amanhã ou depois um cidadão se vir vítima de abuso por parte do Estado, só poderá contar com a imprensa para denunciar.