Sem poder articular de dentro da cadeia, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) escolheu para ser sua porta-voz a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann. Talvez Lula não saiba, mas sua escolha até aqui tem se mostrado um desastre. Na ânsia de defender o nome do ex-presidente e evitar especulações que pudessem esvaziar sua virtual (e impossível) candidatura, a comandante da legenda tem dinamitado pontes, ofendido aliados e empurrado o PT para uma tática suicida.
Difícil imaginar que o modo grosseiro de lidar com as alianças do partido tenha sido recomendado por Lula, um político hábil e que sempre conseguiu reunir a esquerda a seu redor. Com Gleisi, ao contrário, o PT parece não ter qualquer amigo na política e se isola a cada dia mais.
Aliado de primeira hora do PT nos momentos mais difíceis, o pedetista Ciro Gomes, nome da esquerda hoje com chances mais claras de chegar ao segundo turno, foi um dos primeiros a sofrer com a truculência de Gleisi. Além de proibir que qualquer petista fale da hipótese de um apoio a Ciro, a presidente do PT ofendeu o pedetista, que respondeu ter “pena” dela.
O PSB, aliado do PT em momentos mais distantes, também tem sofrido, segundo relatos de bastidores. O jogo duro de Gleisi Hoffmann tem dificultado o entendimento das legendas em nível estadual. Ao vincular os apoios regionais a uma união em torno de Lula, Gleisi praticamente liquida qualquer chance de o PSB apoiar o PT. Afinal, qual partido toparia fechar aliança com um nome que não estará efetivamente na disputa, pois é inegável sua vedação pela Lei da Ficha Limpa. Gleisi ainda tenta sabotar uma eventual aproximação entre pedetistas e socialistas, o que não é construtivo para a esquerda.
A estratégia petista de manter o nome de Lula até onde for possível para facilitar a transferência de votos é um equívoco estrondoso. O partido está perdendo espaço. Enquanto Gleisi queima pontes, os aliados vão se movimentando em outras frentes. Ciro, por exemplo, parece já ter perdido a paciência e vai trabalhando outras possibilidades. Hoje, é possível dizer que PCdoB e PSB estão mais perto dele que do PT. Além disso, até partidos de centro e de direita já andaram trocando ideia com o pedetista sobre uma aliança. PP, PR e DEM são exemplos.
Acostumado ao protagonismo e ao reinado de Lula, o PT não consegue reconhecer que diminuiu e que não tem qualquer chance de vencer uma eleição sozinho. Achar que Lula, preso, vai conseguir transferir votos para qualquer um que indique, em uma eleição curta e com pouco dinheiro, é um pouco de ingenuidade. Claro que o ex-presidente, com mais de 30% em qualquer sondagem eleitoral, tem muita força, mas, a cada dia que o partido adia a decisão sobre seu substituto, uma parcela desses vai escolhendo outros candidatos para apoiar. Ciro, Marina Silva são hoje os principais destinatários desses votos. Quando o PT resolver ungir seu nome, pode ser tarde demais para tornar-se a principal alternativa de esquerda. Depois que a eleição se polarizar, sem Lula ou qualquer outro petista, rompê-la será muito mais difícil. Os governadores do partido já perceberam isso, mas tomam pancada a cada vez que tentam dizer o óbvio.
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