Para tapar o rombo financeiro de Minas, que tem suas raízes em décadas de gestões fiscalmente descomprometidas com o equilíbrio das finanças públicas e refratárias ao desenvolvimentismo e à sustentabilidade, é preciso coragem. Muita coragem para corrigir os erros que levaram à bancarrota. Não aponto como a mais culpada a última gestão. Fique claro: recebeu um fardo criado e enchido por outros.
Até então, os candidatos, em suas declarações, alguns sem citar um número sequer, não mostraram como pretendem a saída honrosa de um túnel que termina nas profundezas do inferno.
Para recuperar Minas, impõem-se medidas urgentes, enérgicas, pontuais, sem voluntarismo e amadorismo. Os choques gestionários do passado não deram rumo e trilhos, mas enfiaram Minas num cipoal burocrático do atraso. Esmagou-se a produção com uma queda assombrosa de 21% de 2013 a 2016. Foi aniquilada a geração de oportunidades, deu-se asa a uma burocracia fajuta, que trouxe a reboque a corrupção. Esta, declinada de variadas formas espertas e insuportáveis. Minas regrediu. É o Estado mais aquinhoado de riquezas e registra o maior decréscimo do PIB - recordista no planeta. Pior que o Haiti varrido por terremoto e sem recursos naturais de expressão.
Minas, ilha da fantasia do patrimonialismo rococó, das disparidades entre norte e sul, com variação de renda per capita de 500%, fuzilou seu desenvolvimentismo, decretou o êxodo em massa do norte para se inchar a região metropolitana de Belo Horizonte e também a cidade de Boston, nos EUA.
O passado ligou ao presente um cipoal burocrático, que fez do Estado um dos mais desgraçados do Brasil. O comentarista Sardenberg mostrou na GloboNews, nos últimos dias, o ranking dos países latinos mais burocráticos. Brasil em primeiro, com 1.800 pontos, Argentina em segundo, com 220 pontos, os demais abaixo de 200. Ferrada a nossa Minas. Esse é o tamanho da monstruosidade que ninguém ataca nesta campanha, até porque alguns participaram dela sem se dar conta. Burocracia é um fenômeno parasitário, é dar mais importância ao acessório que ao principal. Contrariar um mundo, a lógica que até a China comunista soube controlar.
Com isso, cerca de 20 mil empreendimentos mofam nas gavetas do Estado há mais de dez anos, com atrasos médios que passam dos quatro anos. Que previsibilidade tem esse paquiderme que é Minas?
O atual governo, de Fernando Pimentel, afirma que manteve inalterado o saldo dos atrasos, quer dizer, por sua parte não aumentou a fila, mas não conseguiu recuperar o atraso catastrófico herdado. Isso é gravíssimo e perverso, milhões de empregos estão reféns, portanto é falha a afirmação de candidatos de que vão trazer investimentos das Arábias. Basta liberar o que está nas gavetas para gerar mais 1 milhão de empregos e determinar um surto de crescimento maior do que o chinês. Mas quem é capaz? Seria essa a via mais fácil e correta de restaurar a saúde de Minas.
É inaceitável, a meu ver, a ideia de um choque de gestão 2.0, Minas não aguentaria. Precisa de choque de desenvolvimento, enxergar o óbvio, o natural, escolher pessoas com capacidade, e não marqueteiros para determinar as políticas de Estado. É preciso, neste momento, um tipo de eleitor que reclame coisas simples, corretas, honestas. Que não se deixe roubar pelo patrimonialismo jurássico.
Minas tem potencial para se erguer e ser a terra mais produtiva da América, para seu povo ser levado ao bem-estar. O patrimônio comum não pode ser apanágio de poucos.
Aos candidatos ao governo cabe mostrar essa vontade inequívoca, sem dourar a pílula, sem piadas e refrescos. A situação é gravíssima. Mostrar a verdade, as medidas, o compromisso com planos, não ter incompetentes e exploradores nos quadros de seus assessores.
Minas precisa de pessoas sem compromisso político, mas de compromisso com o povo, para contrariar inequivocamente o patrimonialismo, o nepotismo, a corrupção, a incompetência.
Abominem o viés voluntarista e foquem as causas, os programas, mostrem que possuem propostas claras e comprometidas. Sem medo de mostrar a verdade libertadora. Minas precisa de um missionário, alguém que não tenha medo de emprestar sua vida para a salvação do Estado. Nesta altura, quem tem medo deveria ficar em casa e não assumir o que nunca poderá fazer.
Talvez seja cedo para se desfazer dos atuais candidatos, seu discurso e atitudes podem melhorar e transmitir confiança de que as sementes de uma regeneração estão sendo jogadas agora. Eis o problema que não é só dos candidatos, mas dos eleitores em especial. Soluções.
Todos os candidatos a quem se dá crédito poderiam se reunir, deixar de lado as vaidades e as diferenças. Ser sinceros e comprometidos com a verdade. Contratar uma consultoria que escancarasse as causas, as razões e os motivos do desastre. Seria aí importante chegar a um denominador comum e impessoal, que dispensasse, assim, intenções demagógicas e efêmeras. O próximo governo, seja de quem for, precisará de apoio para ações inadiáveis.
Também um pacto comum de não rifar, como vem ocorrendo agora, o próximo governo.
Dar um basta à exploração das finanças. Tem que ser um governo forte e amparado.
Poderiam pensar também na possibilidade de se retirarem todos de cena e de procurar um interventor, apenas justo, neutro, confiável e disposto a uma tarefa determinada, hercúlea e imprescindível, estudada objetivamente e de comum acordo.
Disposto como um interventor, um “deus ex machina” das comédias latinas, entrar em cena para dar ordem ao Estado e, depois de quatro anos, sair com a missão cumprida.
Claro que não sou ingênuo de pensar que isso seja possível em relação aos pretendentes, mas o sentimento do eleitor deve se despertar para essas ideias e cobrar agora e sempre a superação da desgraça de Minas Gerais.