A economia é frequentemente descrita como a ciência das escolhas, uma lente que permite mensurar o impacto de decisões na vida de milhões de pessoas. Quando aplicada à gestão pública, essa perspectiva nos conduz a uma pergunta simples, mas desafiadora: como obter o máximo de impacto econômico e social de cada R$1 investido no que é público? 

Cuidar do que é de todos não pode ser reduzido a uma tarefa burocrática; é, antes de tudo, um exercício de transformação social. Mais do que administrar recursos, trata-se de traduzir esses investimentos em qualidade de vida e oportunidades concretas. Estradas pavimentadas, hospitais entregues, escolas construídas e empregos gerados são pontos de inflexão para uma sociedade que escolhe investir em seu futuro. Mas, para que esses investimentos sejam escaláveis, eficientes, eficazes e duradouros, precisamos reimaginar a forma como criamos valor público.

Foi em linha com essa reflexão que, ainda nos anos 1970, surgiu, no Reino Unido, o conceito de “value for money”. A ideia de criar o máximo impacto, fruto de cada real investido, revolucionou a gestão pública, estimulando governos a priorizar resultados econômicos e sociais tangíveis. Vale notar que muitos desses resultados têm impactos multifacetados na sociedade.

Em 2003, durante o mestrado, tangenciei essa perspectiva usando uma análise multidimensional da pobreza em Minas Gerais, defendendo que ela não se limita à ausência de renda, mas se revela também na falta de acesso a saúde, educação e infraestrutura básica. Essas carências restringem a participação plena dos cidadãos na sociedade, e é justamente aí que os investimentos públicos precisam atuar.

Hoje, mais de duas décadas depois, é paradoxal, mas o tema continua atual. Decisões públicas devem ser orientadas por perguntas práticas: quantas vidas serão beneficiadas? Que desigualdades serão reduzidas? Que oportunidades serão criadas? Quantos e que tipos de empregos serão gerados? Na prática, isso significa que não basta considerar quanto um projeto custou. Nessa equação social, o valor público efetivamente criado é o crivo determinante.

Contudo, o cenário global mostra que, mesmo nas gestões mais comprometidas a transformar recursos em oportunidades, os desafios para atender às demandas da sociedade no ritmo exigido persistem. E é aqui que as concessões e as Parcerias Público-Privadas (PPPs) tornam-se ferramentas estratégicas afiadas e úteis. Quando bem estruturadas, são formas de multiplicar o impacto, encurtar prazos e ampliar a qualidade dos serviços oferecidos à população. Em minha visão, uma decisão técnica, não ideológica, e guiada pelo objetivo de maximizar a criação de valor público.

Mas entenda, estruturar uma PPP ou uma concessão é apenas o ponto de partida. O papel do Estado não termina quando um contrato é assinado. Pelo contrário, ele tem a responsabilidade de monitorar cada etapa do projeto, corrigir desvios, garantir que os resultados prometidos sejam entregues e agir sempre que necessário. Mesmo que isso exija reequilibrar um contrato ou até, em uma situação extrema, romper um contrato e recomeçar o caminho.

Essa vigilância e esse cuidado do Estado com o patrimônio de todos mantêm o “trem nos trilhos” – aliás, não apenas como uma metáfora de eficiência, mas como um símbolo do movimento contínuo que impulsiona sociedades rumo ao futuro. Um futuro que só se constrói quando o olhar ultrapassa o imediato e alcança aquilo que ainda não existe, mas que pode ser moldado. 

Helger Marra Lopes
Diretor de Mercado e Ativos da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge)