Geiza Prado é professora de ciências da natureza no Bernoulli

“Por que a lua muda de forma?”. “Como a planta bebe água?”. A infância é marcada por uma curiosidade intensa e genuína sobre o mundo. Perguntas como essas revelam o desejo de compreender os fenômenos que cercam o dia a dia, e é justamente neste momento, quando o olhar investigativo está mais aguçado, que o incentivo ao pensamento científico pode fazer toda a diferença.

Segundo a National Science Teaching Association (NSTA), crianças a partir de 3 anos já são capazes de explorar conceitos científicos por meio da observação e da experimentação. Aproveitar essa fase é abrir caminho para uma aprendizagem mais significativa, que valoriza a busca por explicações, estimula a investigação e desenvolve habilidades essenciais para a vida toda.

Mais do que decorar fórmulas ou nomes de cientistas, promover o pensamento científico significa possibilitar que o aluno construa o conhecimento a partir da observação e interpretação dos acontecimentos cotidianos. A ciência, nesse contexto, torna-se uma ferramenta para conhecer o mundo e compreender seus fenômenos.

Vale destacar que a infância é o momento ideal para iniciar esse processo, uma vez que a curiosidade natural das crianças é fundamental para explorar as etapas do método científico: observação, questionamento, formulação de hipóteses, experimentação, análise dos resultados e conclusão. Mesmo sem compreender plenamente essas etapas, as crianças podem vivenciá-las na prática, de forma lúdica e contextualizada, contribuindo para que, em séries mais avançadas, já tenham familiaridade com a lógica da pesquisa científica.

Um dos principais desafios nesse processo é romper com práticas tradicionais que ainda valorizam excessivamente a memorização e a busca por respostas “certas”, em vez de estimular a investigação e o pensamento crítico. Além disso, é importante mostrar para as crianças que errar é natural e é uma parte essencial no processo de aprendizagem. O erro deve ser compreendido como algo construtivo, que impulsiona o levantamento de hipóteses, a revisão de ideias e a busca por novas explicações.

Apesar de parecer complexo, incentivar o pensamento científico pode começar com estratégias simples e eficazes. Atividades como a montagem de uma composteira, por exemplo, ensinam os alunos a observar, levantar hipóteses e tirar conclusões. Práticas como essa também permitem abordar temas relevantes, como sustentabilidade, meio ambiente e consumo consciente.

Além de contribuir para o aprendizado em ciências, essas práticas impactam positivamente outras áreas do conhecimento. O raciocínio lógico desenvolvido em atividades investigativas favorece o desempenho em matemática; a capacidade de argumentar e interpretar dados fortalece habilidades em linguagem; e a escuta ativa, o respeito à opinião do outro e a colaboração são ganhos no campo socioemocional.

Promover o pensamento científico desde cedo é mais do que ensinar ciência, é formar pessoas que observam com atenção, questionam com autonomia e buscam transformar o mundo a partir da curiosidade e do conhecimento. Quando esse processo começa ainda na infância, os ganhos se estendem para toda a vida.