Após 13 anos, nove meses e 18 dias no poder, o ex-presidente da Bolívia Evo Morales (o primeiro indígena a alcançar o mais alto cargo do país, oriundo de família humilde – foi padeiro, pedreiro e trompetista), sob pressão do comando do Exército, “renunciou” ao mandato que “conquistara” nas urnas no mês de outubro passado.

A crise que o levou à renúncia se iniciou no referendo do dia 21 de fevereiro deste ano, quando mais de 51% dos bolivianos não concordaram que se violasse a Constituição do país para que ele pudesse disputar um quarto mandato.

Colaboraram para a renúncia as denúncias de fraudes na sua última “vitória” (a Organização dos Estados Americanos – OEA – , em auditoria, pediu novas eleições no país) e os protestos violentos ocorridos quatro semanas antes, que deixaram três mortos e 300 feridos. A novidade é que os integrantes da linha de sucessão também renunciaram. Isso provocou sério vácuo institucional no país andino, que poderá ser preenchido pela segunda vice-presidente do Senado, senadora Jeanine Añez. A outra novidade é que Morales já havia acordado com a convocação de novas eleições.

Há quem considere que o “golpe popular” na Bolívia – assim dito por alguns analistas – não terá influência no Brasil nem na América Latina. Os pessimistas de plantão, porém, dizem o contrário.

Entre nós, os inimigos da democracia, que estão dos dois lados, diante do que sucedeu no Chile e na Bolívia, torcem para que o Brasil entre em grave crise institucional, desencadeada, obviamente, por desordens públicas violentas nas ruas, depois da última decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a prisão obrigatória a partir da segunda instância. Esquecem-se de que o próprio ministro Edson Fachin, relator dos processos da Lava Jato no STF, e que sempre foi a favor da tese por ora vencida, afirmou o seguinte: “Eventual alteração do marco temporal para a execução provisória da pena não significa que, em lugar da execução provisória, quando for o caso, não seja decretada prisão preventiva, nos termos do artigo 312 do Código de Processo Penal”.

E concluiu, referindo-se aos meros profetas da catástrofe de plantão: “Então, não vejo esse efeito catastrófico que se indica”.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, agora solto (não livre), revelou na saída sua pregação raivosa, alimentada pelo ódio do “nós contra eles”. Se me fosse possível sugerir aos dois – ao que foi e ao que é hoje o responsável pelos destinos do Brasil –, diria, sem medo de erro, que nenhum dos dois – cada um polarizando ao seu modo – colaborará para que este país se desenvolva e encare a desigualdade social, única causa real capaz de abater o eterno gigante.

Juízo, minha gente!

“Sursum corda”!