Acílio Lara Resende

Faça o que eu faço, mas não faça o que eu digo

De papear, até que gosto, mas já gostei muito mais


Publicado em 19 de dezembro de 2019 | 03:00
 
 
 
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São muitas as frases, como a do título, que assumem a aparência de um conselho. Aliás – diz a sabedoria popular –, conselho, se fosse bom, seria cobrado, não seria dado de graça. Tenho arrepios quando me pedem algum conselho. De conversar, de papear, até que gosto, mas já gostei muito mais. Sobre política e futebol, então, está difícil “trocar ideias”. É impossível, nessa troca, você sair ganhando algo de bom. Pior ainda, leitor: nessa troca, como disse Fernando Gabeira em relação ao governo Bolsonaro, é preciso cuidado para não se ter um troço…

A frase, porém, nada tem além de um cunho defensivo. Veio-me à lembrança por vários motivos. Gostaria que nenhum deles me fizesse lembrar o presidente Jair Bolsonaro. Mas ela tem relação com quase tudo o que ele pensa e, depois, deixa de pensar. Se ele só governasse o país e deixasse de lado a sua “filosofia de vida”, poderia até passar despercebido. Aquilo que não tivesse condições de fazer, as instituições – sobretudo o Congresso – fariam por ele. Simples assim. A democracia agradeceria. Felizmente, ela sabe lidar com as limitações humanas.

A razão do título destas linhas? Quando deputado federal, Bolsonaro, na Câmara, disse que “o Bolsa Família nada mais é do que um projeto para tirar dinheiro de quem produz e dá-lo a quem se acomoda, para que use seu título de eleitor e mantenha quem está no poder”.

Depois de 30 anos, está disposto a dar uma mãozinha (uma boa iniciativa!) ao que sempre considerou um projeto do PT: está sendo preparada a ampliação do Bolsa Família. A ideia é atender jovens de até 21 anos e não apenas até 17. Virá, também, reajuste. Tomara que o faça, mesmo que seja para conquistar boa parte do eleitorado do PT. Se é para atender à população pobre, que não fique só na intenção. Os sinais de melhora na economia têm que chegar aos que mais necessitam.

Fazendo isso, o presidente se esquece da “pirralha” sueca e pode até curar-se da reação que tem quando não compreende a intenção de Greta Thunberg, que, aos 16 anos, sensibilizou o mundo com sua campanha em favor do meio ambiente. Voltar-se o quanto antes para outras finalidades de um governo que se preze seria uma boa. Uma delas seria governar, respeitando a diversidade, para todos os brasileiros.

O ano está terminando, e, mesmo antes de se ter um troço com as agressões à educação e à cultura, há o que se comemorar. Refiro-me à entrevista do general Villas Bôas. Sua coragem pessoal, ao enfrentar doença terrível (ELA), sensibiliza. Dizendo-se defensor da Constituição, afirma: “O Brasil hoje é um país que conta com instituições amadurecidas, dispensa o uso de mecanismos não constitucionais”.

Pode-se até divergir de Paulo Freire, mas chamá-lo de “energúmeno” e/ou “endemoninhado, possesso, fanático…” Meu Deus!

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