O desalento insiste em tomar conta da maioria dos brasileiros, que sofrem, neste exato instante, além de uma crudelíssima pandemia, que decretou isolamento e alguns comportamentos totalmente fora do normal, um pandemônio político, que, somado à primeira, tem força para jogar o país em situação profundamente dramática.
O jornalista e escritor Ruy Castro, em sua coluna na “Folha de S.Paulo”, aposta que “cairá em desilusão quem tem uma pontinha de esperança de que o governo de Jair Bolsonaro tomará, enfim, as rédeas do combate à pandemia de Covid-19. O Palácio do Planalto tem outras prioridades”.
Concordo em parte com o que disse Ruy Castro, mas não vou me deixar levar pela desilusão. Não posso deixar que isso aconteça e acho que todos nós devemos fazer o mesmo. As notícias ruins, sobretudo as que dizem respeito ao governo de Jair Bolsonaro, são de fato dominantes, mas já há uma ou outra notícia boa. Uma delas: a reação imediata de setores da sociedade contra qualquer tentativa de desestabilização da democracia que implantamos a partir da Constituição de 1988.
Democracia
São 32 anos de Estado democrático de direito. Essa multidão vai se formando aos poucos, mas com a disposição de tomar conta das ruas do país todo no momento certo.
Outra: depois que cerca de 30 manifestantes bolsonaristas dispararam fogos de artifício na direção do Supremo Tribunal Federal, o presidente Dias Toffoli divulgou nota afirmando que o STF “jamais se sujeitará, como não se sujeitou em toda a sua história, a nenhum tipo de ameaça, seja velada, indireta ou direta”.
Outras notícias boas? Leia esta, leitor: depois que o Congresso devolveu e Jair Bolsonaro revogou a MP sobre reitores, que permitia ao ministro da “Educassão”, Abraham Weintraub, escolher, sem eleição, reitores de 18 universidades e de institutos federais, o próprio presidente passou a cogitar, logo após Weintraub ter participado de manifestação contra o STF no domingo, a demissão do seu leal acólito.
Militares
Prefiro engrossar a fila dos que, como o cientista político Carlos Pereira, colunista de “O Estado de S. Paulo”, dizem que “Bolsonaro é, de fato, fake”. Apostando, desde o início, com alguns colegas, que consideram que a democracia, sob a Presidência de Jair Bolsonaro, está sob risco iminente, Pereira agora dobrou a aposta afirmando que “as ameaças de Bolsonaro à democracia brasileira são falsas. Não críveis, como dizemos no jargão da ciência política”, concluiu.
E, finalmente, se a toada contra a democracia iniciada pelos Bolsonaros (pai e filhos) continuar, não creio que os generais que o apoiam e imaginavam que poderiam ajudá-lo a governar o país continuarão ao seu lado. Dar-se-ão, por mil e um motivos, por exaustos. Estaria eu, leitor, falando de flores? Que bom, então!