Acílio Lara Resende

Um duelo que só à história caberá arbitrar

Fernando Henrique e a emenda da reeleição presidencial


Publicado em 17 de setembro de 2020 | 03:00
 
 
 
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Na penúltima quarta-feira, o jornalista Elio Gaspari, em sua coluna semanal em “O Globo”, sob o título “FH reconheceu a ruína que criou”, referiu-se à frase usada pelo ex-presidente no artigo “Reeleições e crises”, publicado no mesmo jornal. Eis a frase: “Cabe a mim um mea-culpa. Permiti, e por fim aceitei, o instituto da reeleição. Devo reconhecer que historicamente foi um erro”.

Gaspari não teve meias-palavras e afirmou: “Foi mais do que um erro, foi um crime, e ele sabia disso desde a primeira hora”.

Um dia depois do artigo de Elio Gaspari, o jornalista Carlos Alberto Sardenberg, em sua coluna, também semanal, no mesmo jornal, escreveu o que de fato pensa do ex-presidente: “Alguém já disse que FHC foi o melhor presidente que tivemos e que teremos. Também acho isso”, disse Sardenberg sem meias-palavras e com sinceridade.

Os jornalistas aqui citados, dos melhores da nossa imprensa tradicional, acompanharam de perto uma época conturbada e de inflação altíssima. Chegamos a conviver com um índice de 84% ao mês, coisa que os jovens de hoje não são capazes de imaginar. Como ambos, acompanhei de perto o que se passou após o impeachment de Fernando Collor de Mello, que prometera varrer a corrupção do país.

A primeira medida de Collor foi o aprisionamento dos ativos financeiros. Sofri na carne o que ocorreu, pois havia deixado a diretoria regional em Minas do “Jornal do Brasil”. Fui obrigado a ingressar na Justiça para reaver o que havia recebido da empresa depois de 23 anos de muita dedicação. Época ruim. De dores, tristezas e prejuízos.

Permita-me, leitor, repetir uma velha lição: ”Nem tanto ao mar, nem tanto à terra”. Na realidade, a moderação é uma das manifestações da prudência. Apostar, porém, que a história reconhecerá não só as qualidades intelectuais do ex-presidente Fernando Henrique, mas, sobretudo, saberá dizer o que de positivo fizeram pelo país os seus dois governos, não é exagero. FHC já ocupa, sem dúvida, apesar do mal provocado pelo instituto da reeleição, lugar de destaque na galeria de ex-presidentes. O mineiro Itamar Franco também terá o seu lugar de honra.

O ódio horroroso que hoje domina o ambiente político, diariamente regado e alimentado pelo próprio Bolsonaro, que era contra a reeleição, mas hoje só pensa nela, é responsável pelas ofensas dirigidas a Fernando Henrique Cardoso. Vale dizer: quem não é a favor do presidente é a favor do Lula. E ainda afirmam os bolsonaristas que desprezam a democracia: FHC é e sempre foi a favor do petista.

Fernando Henrique Cardoso tem que ser julgado pelo “conjunto da sua obra”. E sua reeleição, leitor, no primeiro turno, foi aceita e apoiada pelos que tinham medo de Lula. E que hoje se tornaram os lambeteiros do capitão.

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