Sweida, Síria — A província de Sweida, no sul da Síria, foi palco de um dos episódios mais sangrentos dos últimos anos, com mais de 600 mortos após dias de intensos confrontos entre milícias druzas e tribos beduínas, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos.

Os confrontos começaram no fim de semana de 12 a 13 de julho de 2025, após o sequestro de um comerciante druzo na estrada que liga Sweida a Damasco. O incidente desencadeou uma onda de violência entre grupos armados locais e forças tribais beduínas, agravada pela entrada de tropas do governo sírio na região sob o pretexto de restaurar a ordem.

A estrada entre Damasco e Sweida foi fechada, e vídeos nas redes sociais mostraram cenas de confrontos armados e execuções sumárias. A escalada da violência levou o governo sírio a autorizar a entrada de forças militares na região por 48 horas, após apelos de líderes espirituais druzos e do governador de Sweida.

Os druzos são uma minoria religiosa de origem islâmica esotérica, com presença significativa no sul da Síria, no Líbano e em Israel. Embora sejam árabes, os druzos mantêm uma identidade religiosa e cultural distinta, com forte coesão comunitária. Historicamente, são conhecidos por sua postura pacífica e por viverem em harmonia com outras comunidades étnicas e religiosas, evitando envolvimento em conflitos sectários. Em Israel, a comunidade druza é integrada às Forças de Defesa e goza de cidadania plena, o que fortaleceu os laços entre os druzos israelenses e os da Síria. Por isso, Israel frequentemente manifesta preocupação com a segurança dos druzos sírios, especialmente em regiões como Sweida, onde a comunidade se encontra vulnerável a ataques de grupos extremistas ou do próprio regime sírio.

No Brasil, onde vive uma pequena, mas influente comunidade druza, a situação em Sweida tem gerado forte comoção. Lideranças locais expressaram preocupação com o que classificam como uma tentativa de genocídio contra a minoria na Síria. Reda Mansour, ex-embaixador de Israel no Brasil e primeiro diplomata druzo da história israelense, afirmou que milhares de drusos no Líbano e em Israel estão prontos para entrar na Síria caso os massacres continuem. “Se sentirmos que, em alguns dias, esses massacres continuam, vamos ver milhares de drusos cruzando a fronteira para proteger suas comunidades”, disse Mansour, destacando que esse tipo de mobilização já ocorreu em outros momentos históricos.

Em resposta à ofensiva do regime, Israel lançou ataques aéreos contra forças sírias, alegando a necessidade de proteger a comunidade druzia. O governo israelense afirmou que a entrada de tropas sírias em Sweida violava acordos de desmilitarização e representava uma ameaça à segurança regional.

Após dias de combates, um cessar-fogo foi anunciado em 15 de julho, com a promessa de retirada das tropas sírias e a criação de um comitê conjunto entre o governo e líderes druzos para supervisionar a paz. No entanto, parte da liderança local rejeitou o acordo, alegando traição e exigindo justiça pelos mortos.

O massacre em Sweida reacende preocupações sobre a estabilidade da Síria, que ainda enfrenta os efeitos devastadores de mais de uma década de guerra civil. A comunidade internacional observa com apreensão, enquanto líderes locais pedem por paz e reconciliação.

Relato de uma síria no Brasil

A tradutora Layla Karmoshe, que veio da Síria para o Brasil há mais de 10 anos e hoje é naturalizada brasileira, fez o seguinte relato: “Os ataques contra os druzos na Síria são ataques contra uma parte essencial do tecido nacional sírio. Os druzos são cidadãos sírios que sempre contribuíram para a história, a estabilidade e a diversidade do país. Hoje, pedimos à comunidade internacional que atue com urgência para proteger os direitos das minorias na Síria e impedir a continuidade dessas agressões. A proteção das minorias é um dever coletivo de todos os que defendem os direitos humanos.”

Situação hoje

Hoje, 19 de julho de 2025, a situação em Sweida continua tensa, apesar do anúncio de um cessar-fogo imediato feito pela presidência síria após um acordo com Israel, mediado pelos Estados Unidos. O presidente interino da Síria, Ahmed al-Sharaa, afirmou que o objetivo do governo é proteger todas as minorias e comunidades do país. No entanto, confrontos esporádicos ainda ocorrem na região, especialmente entre grupos beduínos e a população druza. Mesmo após a aceitação do cessar-fogo por parte dos druzos, os ataques de milícias beduínas continuam, agravando a crise humanitária na província.

Por sua parte, Israel mantém uma postura ativa na crise. Após dias de intensos combates e ataques a posições do governo sírio — incluindo bombardeios em Sweida e até em Damasco —, o país concordou em permitir acesso limitado de tropas sírias à região de Sweida por 48 horas, com o objetivo de conter a violência. Ainda assim, Israel continua realizando ataques aéreos contra alvos militares sírios, alegando a necessidade de proteger a comunidade druza, que tem forte presença tanto na Síria quanto em Israel.

Ato em Brasília pela paz e justiça

Em resposta à escalada da violência em Sweida, representantes das comunidades árabes e defensores dos direitos humanos no Brasil convocaram um ato público de solidariedade. A manifestação ocorrerá em 20 de julho de 2025, às 15h, na Casa da ONU, em Brasília (SEN Quadra 802, Conjunto C, Lote 17). O evento tem como objetivo denunciar a perseguição contra os druzos e outras minorias na Síria, e reafirmar o compromisso com a paz social, a dignidade humana e o respeito à diversidade religiosa.

Os organizadores pedem que os participantes levem bandeiras da paz e se unam em uma só voz contra a violência sectária. A mobilização circula nas redes com as hashtags #SaveAsSuweida e #Suwayda_fights_terrorism. Mais informações: +55 61 98274-8455.