A cada dia aparecem na mídia mais denúncias de casos de assédio sexual e diversos tipos de abuso nos mais variados setores. As ocorrências mais recentes foram na indústria cinematográfica, com várias atrizes acusando diretores, atores e produtores. O esporte não fica atrás. Recentemente, a ginástica norte-americana foi cenário do maior escândalo sexual da história do esporte, com a condenação do médico Larry Nassar a mais de 175 anos de prisão por abusar de mais de cem ginastas durante anos, assunto que foi abordado nesta coluna anteriormente.
Na última segunda, o tema de abusos no esporte chegou a um dos ambientes mais machistas e que mais mascara esses casos: o futebol. Em uma campanha do Sindicato de Atletas de São Paulo, 33 jogadores e ex-atletas aparecem fazendo um alerta sobre assédio e abuso sexual de crianças e adolescentes que estão nas categorias de base dos clubes. Essa é a primeira campanha do tipo no Brasil, já que o assunto ainda é visto como tabu no meio futebolístico. A informação foi publicada no “El País”.
Jogadores como Edu Dracena e Moisés, do Palmeiras; Rodrigo Caio e Lugano, do São Paulo; e Vitor Ferraz, do Santos, entre outros, participaram de um vídeo em que se apresentavam e falavam ser contra o abuso sexual no futebol. O vídeo foi lançado junto com a hashtag #chegadeabuso. Essa é a primeira atividade da campanha, que ainda deve contar com ações preventivas nos clubes.
A ideia do projeto é do o ex-goleiro Alê Montrimas, revelado pela Portuguesa, que já havia declarado ter sofrido assédio de técnicos, preparadores e dirigentes por diversas vezes durante sua passagem pelas categorias de base. Em entrevista ao “El País” no fim do ano passado, Montrimas contou que casos de abuso no futebol são mais comuns do que nós pensamos.
“Isso é tão comum que os jogadores comentam com frequência no vestiário. Lamentavelmente, já é algo que faz parte da cultura do futebol. E, por isso mesmo, acaba sendo um problema ainda mais difícil de se combater. Crianças e adolescentes muitas vezes sequer tomam consciência de que são abusados”, destacou o ex-goleiro.
A fala dele mostra a importância dessa campanha num momento em que o assunto é recorrente na mídia, já que as pessoas estão tendo cada vez mais coragem e apoio para denunciarem. Acredito que além de os jovens atletas não perceberem estarem vivendo um caso de assédio ou abuso, eles também têm medo do que pode acontecer após divulgarem as situações pelas quais estão passando. Fora isso, tem o medo de ver destruído o sonho de se tornar jogador profissional.
Mas, quanto mais casos vierem à tona, mais crianças e adolescentes terão firmeza e bravura para contar aquilo por que estão passando. Esses jovens devem entender, primeiramente, que não têm culpa de nada disso, e precisam de muito apoio psicológico e familiar para encarar essas situações. Por fim, os clubes têm um papel fundamental no combate ao abuso e ao assédio. Ao menor sinal de um caso assim, o clube deve investigar e se posicionar firmemente sobre o assunto, com denúncia e demissão do assediador.
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