A discussão sobre o uso de novas tecnologias na educação ganhou destaque no ano de 2020 devido à interrupção das aulas presenciais de mais de 1,5 bilhão de estudantes no mundo. Antes da pandemia, a educação digital ainda era tratada por muitos como “artigo de luxo”, e também rodeada de preconceitos e resistências. Mas, em pleno isolamento social, a adoção das tecnologias digitais tem tornado possível a realização de atividades pedagógicas remotas para uma parcela de estudantes com equipamentos e conectividade.
Muito esforço e articulação ainda são necessários para que essa nova condição seja garantida a todos. A pesquisa Educação Não Presencial na Perspectiva de Alunos e Famílias aponta que, em julho, 18% dos estudantes de escolas públicas sequer haviam recebido qualquer atividade remota, sendo que no Norte e no Nordeste essas parcelas foram ainda maiores: 38% e 30%, respectivamente. Frente a esse quadro de desigualdades, torna-se ainda mais urgente que a educação digital realize seu potencial como aliada da garantia do direito à educação básica.
Ainda é pequena a familiaridade com o uso pedagógico dessas ferramentas, apesar do intenso movimento de professores para se adequar ao contexto. Há, portanto, uma série de medidas necessárias. A disponibilização de atividades mediadas pelas novas tecnologias exige uma infraestrutura mínima que precisa ser garantida – e, na maioria das vezes, adaptada.
O professor precisa receber apoio e infraestrutura para a construção e disponibilização de recursos educacionais digitais (REDs), além de formação e orientação para o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) em seu planejamento pedagógico. Além do professor-autor que desenvolve os temas e planos de aula para o ensino digital, alguns profissionais, como designers gráficos e instrucionais contribuem para que a transposição do conteúdo didático para as plataformas digitais seja feita de maneira adequada.
Há movimentos importantes que precisam ser reconhecidos e alavancados. De acordo com pesquisa do Instituto Península, 60% dos professores estavam estudando e se aprimorando. Instituições de ensino e organizações sociais se movimentaram, empresas de telefonia em parceria com órgãos públicos disponibilizaram conectividade, parlamentares discutem no Congresso projetos de lei que endereçam a necessidade de oferta de equipamentos e conectividade a quem mais precisa.
Vamos paulatinamente, enquanto sociedade, estabelecendo uma nova rotina mediada por telas. Este é um momento importante para valorizarmos a discussão sobre as possibilidades da tecnologia a serviço da oferta de atividades pedagógicas em prol do desenvolvimento de crianças e adolescentes.