Opinião

Desenvolvimento integral: vivendo e aprendendo

Educação transcende espaços e o tempo

Por Fernanda Zanelli
Publicado em 29 de julho de 2020 | 03:00
 
 
 
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Não existe caminho para educação fora da realidade como ela é: inacabada. A presença de cada vida humana na Terra se manifesta no movimento e na consciência de nossa incompletude. O aprendizado é, portanto, um caminho longo e pode ser expresso pela fórmula de Bhaskara, por um dia no museu ou por aquele abraço de adeus. Até a areia quente nos pés descalços nos ensina, porque, na concepção de uma educação integradora, o corpo e as várias dimensões que perpassam a vida são importantes, sejam elas emocionais, culturais, intelectuais ou físicas.

Em tempos de corpos distanciados, é necessário reinventar maneiras de viver. Mas, como nos diz Paulo Freire, a educação para a vida sempre assim se fez, se refazendo, transbordando espaços, tempos e conteúdos para além dos muros da escola.

A unidade escolar, embora seja uma instituição-chave para a educação, não é o único lugar onde habilidades e conhecimentos podem ser conquistados. Embora não seja comum a reflexão sobre outros espaços que compõem o saber, um olhar mais atento perceberá que, mesmo nas salas de aula, diferentes mundos convivem por meio da bagagem de vida de cada aluno e professor. Neste cenário, merece destaque o trabalho das Organizações da Sociedade Civil (OSCs), que sustentam oportunidades para crianças e adolescentes refletirem sobre o percurso de suas vivências, experimentarem novas linguagens e expressarem suas ideias.

Assim como a educação transcende os espaços, o tempo da aprendizagem não termina quando bate o sinal da escola. Em momentos de confinamento fica ainda mais evidente que diversidade também se manifesta nos ritmos, na forma como cada um tem seu momento exato de chegar até a última linha e passar para a página seguinte. O respeito e a compreensão dessa amplitude de tempos para desvendar o mundo também fazem parte de um olhar para o desenvolvimento pleno.

Neste momento histórico de crise, é de extrema importância o fortalecimento das instituições, das redes e movimentos de base que vivenciam essa concepção de educação, profundamente conectada às pessoas e à realidade, e que, a partir daí, evidenciam as consequências das desigualdades e da violação de direitos, mas também enxergam o poder de cada agente social na tarefa de transpor esse cenário.

Por mais contraditório que pareça, o (des)envolvimento depende das relações, do comum que nos atravessa como seres sociais e coletivos para gerar autonomia. Autonomia de ser quem somos e ler o mundo com a mesma peculiaridade que marca a experiência de cada ser neste planeta.

Fernanda Zanelli é mestranda em ciência da informação (ECA-USP), com especialização em globalização e cultura e gestão de políticas culturais

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