Artigo

Diversidade na indústria, um tema urgente e necessário

Inclusão como prática permanente dentro da empresa

Por Sergio Leite
Publicado em 26 de janeiro de 2020 | 03:00
 
 
 
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A distância entre o que se considera ideal e a realidade, quando o tema é diversidade e inclusão, é muito grande nas empresas. E quando ela é de segmentos da indústria, como a mineração e a siderurgia, encurtar essa distância pode ser um desafio ainda maior. Dada a presença e o domínio histórico dos homens nesse tipo de operação e às dificuldades do acesso de pessoas negras e mulheres a cursos de engenharia, sem considerar as barreiras sociais em relação às pessoas com deficiências e as barreiras de pertencimento das pessoas LGBTI+, investir na diversidade e na inclusão torna-se um trabalho de longo prazo, mas que precisa começar a ser feito.

Não é de hoje que estamos discutindo essa questão com atenção e muito respeito na Usiminas. Estamos paulatinamente conseguindo mobilizar cada vez mais liderança, gestores e todos os colaboradores em torno desse tema, pelos valores individuais e pelo entendimento de que a perenidade, especialmente de uma companhia de grande porte, está intimamente atrelada ao respeito às diferenças e à colaboração entre todos. No nosso entendimento, independentemente de valores pessoais, cultura ou mesmo crenças religiosas, o respeito tem que ser um dever e um valor fundamental nas relações, sobretudo no ambiente de trabalho.

E os resultados de uma política de respeito às diferenças e de inclusão já são solidamente amparados por pesquisas, como, por exemplo, a da McKinsey, divulgada no ano passado, que mostra que companhias com maior diversidade de gênero em cargos de chefia têm 21% mais de chance de apresentar resultados acima da média do mercado. No caso da diversidade étnica, o número apurado pela consultoria sobe para 33%. Uma pesquisa realizada pelo Hay Group no Brasil mostra que, quando a diversidade e a inclusão são percebidas pelos colaboradores, eles se sentem 17% mais engajados, e o desempenho aumenta em 50%.

Para mudar o atual cenário, o caminho é longo e precisa de apoio dos líderes e gestores. É preciso enfrentar questões comportamentais de colaboradores diretos e de prestadores de serviço. São condutas e padrões cristalizados por décadas de desinformação e preconceito que precisam ser desconstruídos. E, sem dúvida alguma, serão, pois esse é um caminho sem volta.

Para isso, porém, precisamos ir além do discurso e adotar medidas efetivas. É preciso promover diálogos constantes e tomar atitudes práticas. É preciso um movimento sólido e real. Há muitas ações que podem ser tomadas de imediato nas nossas empresas, com baixo impacto orçamentário e grandes resultados na prática.

Na Usiminas, desde o início deste ano, já fizemos treinamentos de viés inconsciente para os líderes e gestores e criamos o grupo de diversidade e inclusão com cinco pilares: cada pilar é liderado por um membro da direção, e, no meu caso, como CEO da companhia, sou o principal responsável pelo pilar LGBTI+. Os demais são: equidade de gênero, raça e etnia, pessoas com deficiência e gerações. O envolvimento direto desses executivos tem se mostrado fundamental para evidenciar que a empresa, de fato, quer e está promovendo mudanças.

Abrimos esses grupos para a participação de todos os colaboradores, estagiários e terceiros, de maneira livre e voluntária. Quem quer participar se oferece para o pilar com o qual possui afinidade. Não é a alta direção das organizações, na maioria das vezes formada por homens de um determinado padrão, que deve decidir o que precisa ser feito para aumentar a diversidade e promover a inclusão de todos no nosso ambiente de trabalho. São os próprios grupos livremente formados que indicam esses caminhos.

Para avaliarmos se há evolução na diversidade sem corrermos o risco de ficar no intangível, definimos indicadores e metas para cada pilar. Por exemplo: no caso do pilar “raça e etnia”, os indicadores são número total de negros, negros em cargos de liderança e negros com ensino superior.

Isso é real, prático e verdadeiro. Não se trata de um manual, uma campanha interna com prazo de validade ou um discurso bonito. Começa a haver cada vez mais uma crença real de que a diversidade e a inclusão vão permitir às empresas melhorarem sua produtividade, inovarem e garantirem sua perenidade em um ambiente colaborativo que respeita e valoriza todas as pessoas. 

Ainda é cedo para apontar resultados, mas existem sinais animadores de mudança. Em curto período, conseguimos elevar em 40% a presença de mulheres em um dos principais programas de entrada na companhia. Para uma taxa tradicionalmente em 7% de mulheres nos quadros da empresa, vemos este indicador com muito otimismo. Cabe agora trabalharmos pela real inclusão dessas profissionais, pela sua retenção e garantia de condições de desenvolvimento e crescimento profissional nas mesmas condições dadas a qualquer outro membro da equipe.

São atitudes que vão mudar a realidade de milhares de pessoas e que, por consequência, tornarão não apenas as empresas, mas também o mundo um lugar melhor para todos.

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