A fisioterapia e a terapia ocupacional completam nesta semana 51 anos de regulamentação no Brasil, mantendo a vocação de se desenvolverem durante momentos históricos de grande dificuldade. Sistematizadas na Europa e nos EUA no início do século XX, as duas profissões se consolidaram após as Guerras Mundiais (1914/1918 e 1939/1945), quando assumiram papel fundamental na reabilitação de pacientes com sequelas desses conflitos armados.

Foi para outro combate que a fisioterapia e a terapia ocupacional chegaram ao Brasil: a epidemia da poliomielite, que ainda hoje preocupa nosso país, como demonstra a campanha de vacinação iniciada neste mês. O clima de guerra e de peste parecia coisa do passado há um ano, quando as duas profissões comemoravam o cinquentenário de seu reconhecimento pela legislação brasileira. Mas, cinco meses após o último outubro, a palavra “pandemia” voltou a nos assombrar.

Em sete meses de crise sanitária global, o Brasil e o resto do mundo aprenderam mais sobre a vida e seus limites, em um contexto que produziu mais conhecimento e reconhecimento sociais a respeito da importância dos fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, sobretudo por sua intervenção decisiva em pacientes acometidos pelo vírus, tanto no tratamento quanto na recuperação. Especialmente neste país de dimensões continentais e desigualdades profundas, que possui um dos maiores e mais desafiadores sistemas públicos de saúde do planeta, o SUS, símbolo de nossa democracia incompleta.

Construção inconclusa sobre princípios como universalidade, integralidade e equidade, o Sistema Único de Saúde registrou, segundo levantamento divulgado pela “Folha de S.Paulo” em julho, 34% de taxa de cura dos pacientes com Covid-19 que utilizaram seus leitos, contra 51% de sobrevida entre os doentes internados em instituições privadas. Onde falta tudo, até mesmo número adequado de fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, a morte é 50% mais frequente.

Vida e democracia são valores dos quais a fisioterapia e a terapia ocupacional jamais poderão abrir mão. Profissões regulamentadas no auge da mais recente ditadura brasileira (1964/1985), no dia 13 de outubro de 1969, ambas fazem aniversário no mês que marcou a refundação democrática do país. Isso porque a Constituição Cidadã de 1988, aquela que inclusive delineou o SUS, foi promulgada em 5 de outubro, há 32 anos.

Ulysses Guimarães, presidente da assembleia que havia produzido a nova Carta, sentenciou naquele dia: “A sociedade sempre acaba vencendo, mesmo ante a inércia ou o antagonismo do Estado. Rebelada, a sociedade empurrou as fronteiras do Brasil, criando uma das maiores geografias do Universo”.

Nesta saga comum de 51 anos, a fisioterapia e a terapia ocupacional têm promovido avanço semelhante, mesmo em meio a crises, ampliando as fronteiras das profissões.