Artigo

Indústria e academia: fabricando a nova mão de obra

Convergência entre saber e produtividade

Por Rafael Ciccarini
Publicado em 21 de fevereiro de 2020 | 03:00
 
 
 
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A separação entre universidade e mercado é histórica e remonta à própria fundação da academia. Platão, filósofo do período clássico da Grécia Antiga, idealista, achava que o conhecimento era algo puro e que não poderia ser contaminado pela realidade da vida cotidiana. Coisas comuns poderiam desviar sábios e pensadores do caminho da verdade. Essa pureza do conhecimento foi a base da criação da academia de Platão, fora dos muros de Atenas.

Perpetua-se, mesmo com toda a história do desenvolvimento moderno das universidades, o hiato entre o pensamento da escola formal e a produção industrial. Hoje, empresas, educadores e jovens concordam que há um gap entre a formação educacional e as necessidades do mercado de trabalho. Não faz sentido ensinar conceitos, fórmulas e conhecimentos que não se traduzem em competências e habilidades não demandadas no mundo real.

Não se trata de descartar o conhecimento teórico, necessário ao pensamento crítico, mas de promover o encontro paradigmático de projetos que têm na sua missão a transformação e a conexão entre a educação e a produtividade.

Pensando nisso, o Centro Universitário Una e a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) estão se unindo no projeto inédito Indústria Jovem, para ampliar a empregabilidade, a competitividade e a inovação no Estado.

O foco da parceria está na promoção da experiência profissional na prática. Entre as diversas ações previstas na empreitada está a criação de um hub de soluções para o setor produtivo e um programa de trainee para aproximar os alunos de grandes empresas.

Há posições abertas nas empresas à espera de profissionais para resolver questões contemporâneas, porém os candidatos oriundos das universidades têm lacunas a serem preenchidas de conhecimentos de ordem prática.

A maioria dos recém-formados não traz as competências de resoluções de problemas, seja de soft skills (habilidades comportamentais) ou de hard skills (habilidades técnicas) para lidar com a complexidade do mercado.

Os conteúdos ministrados nas salas de aula são desarticulados dos desafios que o mercado enfrenta. Assim, o industriário acaba tendo que “reformar” o profissional já formado.

Isso não é subordinar a academia ao mercado, mas entender que precisamos aumentar a produtividade brasileira e voltar a crescer de forma perene. Produtividade está intimamente ligada às questões estruturais, às reformas, ao ambiente econômico, jurídico e regulatório eficaz e à capacidade de inovação.

O industriário, que já conta com o custo Brasil alto – aquele decorrente da deficiência em áreas estratégicas e condições desvantajosas em relação a outros países – também tem um produto defasado e mais caro por falta de mão de obra especializada. 

As universidades vieram para o centro das cidades, falta adentrar a indústria.

Excepcionalmente hoje não será publicada a coluna de Flávio Saliba Cunha

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