Opinião

O potencial do biogás da cana-de-açúcar em MG

Desenvolvimento econômico no interior do país

Por Alessandro von Arco Gardemann (*) e Mário Campos (**)
Publicado em 13 de janeiro de 2021 | 03:00
 
 
 
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(*) Presidente da Associação Brasileira de Biogás (Abiogás)

(**) Presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de MG (Siamig)

O Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo, sendo responsável por 45% da exportação global de açúcar. É reconhecido, também, como o segundo maior produtor de combustível renovável, o etanol. Da cana se aproveitam todos os resíduos que vão da geração de energia elétrica à adubação. O que surge de novidade neste setor é a produção de biogás, um gás renovável, originário da vinhaça e da torta de filtro, subprodutos do etanol e do açúcar. 

A produção de biogás, que é diferente do gás natural de origem fóssil, já é realidade em São Paulo, com a inauguração da primeira planta no mundo em escala comercial, que utiliza os resíduos da cana-de-açúcar para geração de energia elétrica. Outras empresas já estão canalizando o biogás para oferta às distribuidoras, também em substituição ao diesel na frota de veículos pesados. Minas Gerais, com uma moagem, na atual safra 2020/2021, em torno de 72 milhões de toneladas de cana, produção de 4,7 milhões de toneladas de açúcar e cerca 3 bilhões de litros de etanol, tem enorme potencial para investir no biogás.

Dos subprodutos da produção mineira do setor sucroenergético (vinhaça e torta de filtro) seria possível gerar 1,8 milhões de megawatt-hora de energia elétrica, o suficiente para abastecer mais de 1 milhão de casas no Estado, levando em conta o consumo médio residencial, em 2019, de 126,6 kWh/mês. Permitiria, também, a produção de 350 milhões de metros cúbicos de biometano (biogás purificado) com a possibilidade de substituição de 325 milhões de litros de diesel equivalentes. Se pegarmos os dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em 2019, o Estado comercializou cerca de 6,93 bilhões de litros de diesel. O potencial de biometano poderia, então, suprir cerca de 5% desse volume.

Em um panorama nacional, a produção de biogás deve ser impulsionada nos próximos anos pelas reformas em discussão no setor energético – Novo Mercado do Gás e Modernização do Setor Elétrico – e pelo fortalecimento do Programa RenovaBio. Será justamente o setor sucroenergético que deverá impulsionar o potencial desse mercado no país, devido a qualidade dos seus resíduos, maior capacidade de investimento e experiência dentro do setor de energia.

Devido à presença interiorizada, o setor de açúcar e etanol deverá ser o responsável pela criação dos gasodutos estruturantes locais. Como na distribuição de gás natural que tem grande concentração no litoral, pela proximidade de exploração das bacias de petróleo, o biogás do setor sucroenergético, por sua vez, terá uma concentração e distribuição maior no interior do país, contribuindo ainda mais com o desenvolvimento econômico e social das cidades localizadas nessas áreas. 

 

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