Opinião

Por um trânsito mais seguro

Importância dos médicos e psicólogos para conter agravamento das ocorrências

Por Carlos Luiz Souza
Publicado em 25 de setembro de 2020 | 03:00
 
 
 
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O mês de setembro é marcado por ações em torno do Dia Nacional do Trânsito, comemorado no dia 25. A data nos faz refletir sobre a importância de enxergar o trânsito seguro como parte indissociável de uma nova concepção de bem-estar e qualidade de vida. Mas, para isso, precisamos antes entendê-lo como um componente social, econômico, cultural, étnico/racial, psicológico e comportamental que reflete – e influencia – hábitos de toda a população.  

 A data também nos obriga a pensar no papel estratégico desempenhado pelos profissionais que contribuem para a segurança em nossas ruas e estradas. Dada a sua especialização, não há dúvida de que a atuação dos médicos e psicólogos do trânsito tem sido decisiva para que o número de ocorrências atualmente registradas, embora apontem para um quadro ainda grave, não seja maior. Entre outros fatores, isso se deve à realização da consulta que antecede a obtenção ou a renovação da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). É ela que possibilita identificar problemas que comprometem a capacidade do indivíduo para dirigir em segurança – e, vale lembrar, em muitos casos é a única que o candidato realiza no ano em que precisa se submeter ao procedimento.    

Segundo o Ministério da Saúde, um em cada três brasileiros não tem o hábito de ir ao médico regularmente e o número de acidentes nas estradas do país espelha este mau comportamento. Exemplo disso é que problemas relacionados à saúde dos motoristas contribuíram para o registro de cerca de 250 mil acidentes de trânsito nas rodovias federais entre janeiro de 2014 e junho de 2019, segundo a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), que analisou dados disponibilizados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF).   

Apesar disso, às vésperas do Dia Nacional do Trânsito, o Senado aprovou, com algumas alterações, o Projeto de Lei 3.267/2019, que, ao tornar mais flexíveis as regras previstas no Código de Trânsito Brasileiro, fará aumentar a insegurança nas ruas e estradas brasileiras – a matéria retorna para nova votação na Câmara e aguarda sanção do presidente da República que promete sancionar em breve. Ao dobrar o período para a renovação da CNH, por exemplo, o projeto limita de forma perigosa o contato dos motoristas com os profissionais responsáveis pela avaliação, que, além de realizarem as perícias necessárias para concessão e renovação da CNH, atuam como educadores, no repasse de orientações básicas de boa convivência no trânsito e de normas e legislações que devem ser cumpridas por todos.   

É graças a esse cuidado que, mesmo em um cenário ainda bastante adverso, tem sido possível poupar vidas e recursos estatais. Não há dúvida de que a promoção de uma cultura de paz no trânsito reduziria as admissões hospitalares e a gravidade dos traumas, que resultam em gastos que poderiam ser economizados. Além disso, condições mais seguras para pedestres e ciclistas fariam com que mais pessoas viessem a adotar o hábito saudável de caminhar ou deslocar-se de bicicleta, sem temer pela própria vida.  

No caso específico dos ciclistas, é interessante notar que, ao mesmo tempo em que os registros já disponíveis apontaram uma redução dos acidentes envolvendo vítimas que conduziam outros veículos durante a pandemia, aqueles que optam pela bicicleta como uma alternativa de lazer, atividade física ou transporte foram os que mais sofreram no trânsito, entre março e junho, em Minas Gerais, no comparativo com 2019, conforme demonstrado pelo Ministério da Saúde. Registrou-se um aumento de dois para 12 óbitos, enquanto as internações aumentaram 3%, passando de 510 para 524. Os números refletem o crescimento da demanda por serviços de delivery nos primeiros meses da pandemia, que passaram a ocupar mais entregadores que utilizam bicicletas.   

Não há dúvida de que o trânsito é dinâmico, pois obedece às novas necessidades da população. Os acidentes, por sua vez, constituem, de fato, uma questão importante de saúde pública e devem ser tratados com a atenção que o tema merece. Ainda há tempo de evitar que uma situação que, conforme dito acima, é grave, se torne dramática.   

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