As imagens do deslizamento de uma encosta, destruindo completamente um casarão histórico em Ouro Preto, cidade histórica das mais importantes de Minas Gerais, causaram espanto, choque, medo e vazio. As imagens significam um alerta para a preservação do patrimônio histórico e cultural edificado que temos em Minas.
O Solar Baeta Neves, construído no fim do século XIX pela família que dá nome ao imóvel, tinha um incrível teto de madeira entalhado à mão e pisos em marchetaria, um valor difícil de calcular. O casarão compunha o Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de Ouro Preto, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e foi a primeira construção de estilo neocolonial da cidade que, por sua vez, foi a primeira do Brasil a receber o título de patrimônio cultural da humanidade da Unesco, em 1980.
A destruição do prédio grita a necessidade de que os governos no Brasil, em todas as suas instâncias, olhem por nosso patrimônio histórico e cultural edificado. Em Minas se concentra a maior parte do patrimônio histórico cultural do país. Aqui temos os profetas de Aleijadinho no Santuário do Bom Jesus do Matozinhos, em Congonhas, e os riquíssimos conjuntos arquitetônicos de Diamantina, Mariana, Tiradentes, Sabará e outras tantas importantes cidades históricas. Temos ainda o belíssimo Conjunto Arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte, com seu traço modernista que representa o desenvolvimento da década de 40 e que também foi declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco em 2016.
Todo esse patrimônio guarda nossa memória. Ele faz parte do povo que somos. Quando se perde a memória, o presente é incipiente, sem bagagem, sem alicerce. Mas o valor do nosso patrimônio cultural vai além da memória. Em Minas, é uma das mais importantes fontes de renda, alimentando o turismo doméstico e internacional. A cadeia produtiva é extensa e impactante na economia de muitos municípios.
A Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas) reconhece e trabalha para que esse patrimônio seja protegido efetivamente. O Conselho Empresarial de Cultura, o qual tenho a honra de presidir no momento, em parceria como o Conselho Empresarial de Turismo, tem buscado formas de apoiar a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo do estado (Secult) no desenvolvimento de políticas públicas com esse fim.
Os conselhos visam apresentar propostas que contribuam com a valorização e divulgação desse patrimônio cultural. Uma dessas propostas, de criação do jornalista Mauro Werkema – membro de ambos os conselhos empresariais – é a criação de um escritório de projetos multidisciplinar, como uma central de negócios, para orientar os municípios na elaboração de projetos de divulgação e proteção do seu patrimônio cultural, tornando-os atrativos turísticos. A central agiria na capacitação dos municípios para o planejamento da exploração dos seus atrativos culturais; na criação de órgãos municipais de gestão desse patrimônio; na elaboração de calendários locais que aproveitem as festas cívicas e religiosas e na valorização de sua culinária e de outros elementos atrativos.
Ultimamente, com as restrições impostas pela pandemia às viagens internacionais, o brasileiro redescobriu o Brasil. Precisamos aproveitar essa onda e atrair cada vez mais os turistas nacionais. O patrimônio histórico e cultural de Minas é um excepcional atrativo. Além disso, aqui o turista encontra a fabulosa cozinha mineira, música, artesanato, dança, teatro e tantos outros atrativos culturais que, por si só, já são ativos espetaculares.
É urgente a necessidade de uma política mais efetiva de proteção do nosso patrimônio cultural e histórico, preservando nossa memória em seus detalhes mais ricos e promovendo o desenvolvimento da grande cadeia da economia criativa que orbita esses nossos tesouros.
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