Ao longo dos séculos, encontram-se registros de diversas formas de violência entre indivíduos e entre nações. As organizações políticas e as religiões – que deveriam ter por princípio a paz e por fim o bem da humanidade – foram historicamente geradoras do mal e da violência.
A constatação da persistente presença da violência na humanidade – logo a vitória do mal sobre o bem – incomodou Morihei Ueshiba (1883-1969), filósofo e fundador do Aikido (“O caminho da harmonia”), levando a nos incentivar para que buscássemos a paz, por meio do desafio contido numa pergunta inteligente:
“Ao longo das eras, inúmeros filósofos e mestres de religião transmitiram a mensagem da verdade e falaram do poder supremo da harmonia. Mas como se dá que os opositores da verdade e aqueles que lutaram empregando o poder destrutivo tenham vencido?”
Uma análise sobre o que se encontra por trás de toda e qualquer violência evidencia que, por termos corpos, convivemos com instintos animalescos, os quais são impulsionados por reflexos inatos de sobrevivência, conservação e reprodução.
No entanto, podemos perceber em nós sentimentos altruísticos que nos fazem crer que os conceitos de justiça, de beleza, de verdade e do bem são também inatos e podem predominar sobre os instintos; eis que a espiritualidade, por ser universal, é maior do que as religiões e representa a propensão inata que o ser humano tem de procurar o sentido da existência em si, logo transcender a matéria em busca da verdade.
Um pássaro não voa de um para outro município, Estado, ou país, e sim de uma para outra árvore. Foi o ser humano que inventou as fronteiras. Isso ocorreu porque o processo civilizatório da humanidade evoluiu de modos diferentes nos diversos lugares da Terra (e não de modo tribal), gerando as egoísticas invenções – dentre essas, as ideologias – que fazem o ser humano esquecer que, filhos de um só Pai, somos irmãos.
Em 1904 o fisiologista russo Ivan Petrovich Pavlov – que recebera o Prêmio Nobel pela descoberta científica do reflexo condicionado – declarou que existem no ser humano dois “sistemas de sinais”: o primeiro refere-se à percepção da realidade objetiva pela sensibilidade e, portanto, é compartilhado com os animais; o segundo é gerado exclusivamente pela racionalidade humana e dá vida ao universo simbólico.
No universo simbólico a palavra é o programa mais importante em nossas mentes porque extrapola os caracteres e a sonoridade, adquire significado e se torna parte essencial da realidade humana.
A coerção – fundamentada na matéria animalesca – se revelou ineficaz como “recurso para vencer” a violência. Com fundamento no simbolismo, que nos distingue dos animais, evidencia-se ser necessário o “diálogo para convencer”!
A intenção de convencer implica um culto, pelas pessoas e pelas nações, à integridade (que abomina todo egoísmo e toda corrupção) e à tolerância (que nos leva a respeitar, na alteridade, o direito que as pessoas têm de discordar do nosso modo de pensar).
Porém, a integridade e a tolerância somente serão alcançadas e aprimoradas cada vez mais se forem construídas nas famílias, nos templos religiosos e nas escolas, começando pela educação das nossas crianças.
Para que a humanidade possa extrapolar daquilo que a sociedade contemporânea é para o que deveria ser, o diálogo (como objetivo primeiro da educação) parece ser o melhor instrumento!
(*) Alcino Lagares Côrtes Costa é coronel veterano e presidente da Academia de Letras Capitão-Médico João Guimarães Rosa da Polícia Militar MG.