O vôlei com conhecimento e independência jornalística
O abandono das categorias de base, a falta de credibilidade e má gestão da CBV, Confederação Brasileira de Vôlei, mudaram a cabeça de boa parte da atual geração.
As perspectivas no país com a Superliga, que vai de mal a pior, são ruins e jogar no exterior virou prioridade e o objetivo de muitas jogadoras.
A moeda e a estabilidade financeira fazem a diferença, mas nem tudo são flores.
O caso envolvendo a brasileira Marjorie serve como exemplo. Desde 2018 na França, a jogadora passou aperto em Saint-Raphael.
Em contato com o blog, ela relata o triste episódio que viveu na útlima temporada:
'A temporada foi muito difícil com várias situações complicadas. Mas o pior momento foi descobrir que após a casa onde eu morava ter sido roubada (levaram o meu Macbook, óculos de sol, documentos e pertences pessoais), o clube não quis devolver o dinheiro que o seguro pagou pelos objetos furtados. Eu me senti roubada novamente. O pior foi perceber que o clube, lugar onde eu deveria me sentir segura e protegida, estava fazendo exatamente o contrário e me causando sofrimento'.
Marjorie disse que sentiu pânico e ficou escondida dentro de um quarto:
'Eu tive muito medo que alguém entrasse na minha casa novamente e pior seria se eu estivesse dentro e algo acontecesse comigo. Me senti completamente desprotegida. E mesmo depois de mudar de apartamento, eu ainda sentia um pânico absurdo ao chegar em casa, ao ficar na sala sozinha. Passei meses morando apenas no quarto'.
A atleta, com passagens por Osasco, Pinheiros e São Caetano, conta como tudo começou:
'Eu havia jogado a temporada 2019/20 em Saint Raphael na França, e foi uma temporada normal, ao menos para mim, por isso renovei. Mas sei que outras jogadoras tiveram grandes problemas com o clube, inclusive duas jogadoras estão em processo judicial contra o time, ou seja, não fui a primeira, mas gostaria de ser a última. E espero que os clubes entendam que pedimos e exigimos nada além de respeito, honestidade e profissionalismo'.
Marjorie acusa os dirigentes do clube de xenofobia:
'Me senti desrespeitada, tanto como atleta, como pessoalmente falando. Independentemente de tudo, eu cumpri o meu contrato e fui ate o fim. Cheguei a fazer as malas para ir embora algumas vezes, porque era insuportável a pressão psicológica que o vice-presidente fazia, tanto quanto a sua falta de educação e de caráter. Em um dos e-mails, em que ele não queria devolver o meu dinheiro do seguro, ele escreveu "este não é o terceiro mundo” por eu ser brasileira. Xenofobia. Eu tenho orgulho de ser brasileira e ter caráter.'
E qual conselho que Marjorie poderia dar para aquelas que ainda sonham em jogar na Europa?
'Acredito que toda mudança requer adaptação. Eu me adaptei muito bem na França, amo o país, as pessoas, as amizades que eu fiz e não vou deixar essa fatídica temporada definir minha experiência. Se você quer jogar fora do Brasil, precisa estar pronta para novos desafios e aceitar as diferenças. E que fique claro: aceitar as diferenças não significa aceitar qualquer coisa, muito menos falta de respeito. Respeito e profissionalismo sempre'.
Em relação ao futuro, Marjorie diz que pensou em encerrar a carreira, mas hoje quer dar a volta por cima. E longe de Saint Raphael:
'Eu saí de uma temporada completamente abalada emocionalmente. São 15 anos que jogo vôlei, nunca havia passado por nada parecido e nunca tive problemas em nenhum clube. Cheguei a cogitar encerrar minha carreira, não me sentia bem para voltar a jogar e por isso recusei todas as propostas que recebi. Por enquanto, estou treinando no time da A2 aqui na Itália, numa cidade próxima de onde moro com meu namorado. Não vejo a hora de voltar e sentir adrenalina, me sentir feliz e realizada dentro de quadra novamente. Quero muito resgatar aquela Marjorie que ama o que faz'.
A jogadora sai ferida e sem atingir os objetivos. Ela deixa claro que a saúde mental é tão ou mais importante que a parte técnica:
'O meu pensamento na temporada deveria ser focado 100% em vôlei, treinos e jogos, e não chorar e sofrer todos os dias por ter que resolver problemas extra-quadra. Nós, atletas, precisamos ter saúde mental para rendermos nos treinos, jogarmos bem e atingirmos o alto nível, é isso que queremos, somos profissionais e os clubes também deveriam agir da mesma forma'.
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