Cadu Doné

A podridão do nosso futebol

Chama a atenção a inépcia de Rogério Caboclo ao lidar com os jogadores


Publicado em 07 de junho de 2021 | 03:00
 
 
 
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Em meio ao enredo rocambolesco, kafkiano, ao “House of Cards” que de comum com a série tem não apenas as tramas tão ardilosas quanto intrincadas, como as intimidades de protagonistas dos folhetins – Caboclo só não possui o talento de Kevin Spacey –, um detalhe anda negligenciado: a inépcia do presidente da CBF ao lidar com os jogadores. Este ponto, alardeado em várias reportagens, não surge da forma devida nas análises que cercam o pandemônio que tomou conta do futebol brasileiro. Nas especulações acerca da Copa América, noves fora elucubrações de ordem política, ideológica, ou que versam a respeito do suposto recôndito desejo das estrelas por férias, eis um fator que não se pode perder de vista: o tom ditatorial, a sensibilidade de uma rocha exaladas pelo cartola-mor do ludopédio tupiniquim certamente dificultam o manejo do pé de obra.

Triunfo do mal

Independentemente dos acontecimentos que viraram os noticiários da seleção de cabeça para baixo, já daria para entender que Tite merece, no mínimo, a chance de terminar este ciclo até o mundial do Catar. O treinador canarinho é competente, realiza bom trabalho, parece íntegro. Vislumbrá-lo perdendo o cargo por pressões de seu inclassificável chefe direto, e/ou por desmandos da ainda mais nefasta figura que nos (des)governa, seria o triunfo do errado nas mais diversas camadas; a fruição desembalada e altiva do mais puro suco do anti-intelectualismo e do despudor ético. Reconfortante notar que “Seu Adenor” goza de apoio do grupo que comanda.  

Pior impossível

Nossa capacidade de banalizar atrocidades às vezes só ganha precisa dimensão quando olhamos em perspectiva e, com vergonha alheia, indagamos: “como permitimos isso?” Sim, sabemos que o esporte bretão e a política se misturam, se assemelham, e são ambos podres; mas emendar uma sequência de João Havelange, Ricardo Teixeira, Del Nero e Caboclo beira o inacreditável. Difícil cravar se o mais indigesto dos cenários é, acima de tudo, espelho fiel ou força motriz do nosso inquebrantável fracasso.  

Geração fraca?

Temos três grandes goleiros. Dois zagueiros que estão entre os melhores do planeta – Marquinhos e Thiago Silva. Casemiro se destaca como um dos principais “camisas 5” do mundo – e Fabinho, do Liverpool, desponta qual um reserva para lá de sólido para o setor. No que tange aos atletas de criação e finalização, todavia, padecemos com incertezas e mediocridade – na acepção do termo. Apenas Neymar merece a alcunha de craque. Falta-nos meio-campistas da estirpe de um De Bruyne, por exemplo.

Nostalgia

Se lembrarmos que tivemos – sem sair de um passado recente – Roberto Carlos e Cafu, Marcelo – hoje no ocaso de sua trajetória – e Dani Alves, também quanto às laterais, a sensação que prevalece resvala no desânimo. Não à toa, o ala do São Paulo, mesmo aos 38 anos, para mim, há de ser titular. No atual esquema de Tite, com Neymar saindo do flanco canhoto para construir por dentro, o apoio do lateral esquerdo se torna ainda mais essencial. Alex Sandro não empolga.

Comunista

A hashtag “ForaTiteComunista” chegou ao topo dos temas mais comentados do Twitter. Apenas sintoma do país doente que habitamos.

Comemorar?

A suspensão de Caboclo é positiva. Mas ainda não celebremos: ele pode ter deixado amarrado alguns estragos antes da derrocada.

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