Escrevo minutos antes do pontapé inicial da partida contra o Athletico-PR, na Arena da Baixada. Chegamos na segunda em Curitiba. Puxo conversa com todo mundo. Longos papos na metrópole paranaense. Brinquei com Pedro Abílio antes da nossa viagem que sempre tive a impressão de que a capital do Furacão não é dos locais mais envolvidos com o esporte bretão. Mera sensação. Esses dias por aqui fortalecem esse feeling. Quase todas as pessoas que entrevistei e com quem conversei fora do ar disseram não ter time de coração, que não se interessam pelo mundo da bola. Na segunda, o Coxa confirmou seu acesso à Série A. Andando para todo lado aqui com a turma da imprensa, passando por regiões boêmias, repletas de bares, não vimos QUALQUER manifestação do lado verde de Curitiba. De quebra, não rareiam por essas bandas simpatizantes dos clubes de São Paulo.
O futebol não aprende
Há sintomas específicos do desapego com o futebol em Curitiba. BH, Porto Alegre, para mim sedes das principais rivalidades do Brasil, obviamente pulsam com o universo do mais popular esporte do mundo. Mas nesses lugares menos interessados, devemos nos despertar para o que pesquisas apresentam no aspecto macro: a maior torcida do Brasil não é a do Flamengo; é a das pessoas que basicamente ignoram o futebol. A bolha dos jornalistas esportivos precisa abrir a cabeça e relatar fenômenos antropológicos e sociológicos que escapam da alçada do 4-2-3-1. Analisar a queda da paixão por equipes das nossas fronteiras seria importante para compreender o “produto”.
Imagem do Galo
A massa do Furacão, esta semana, está com os olhos voltados para sábado. Final da Sul-Americana, Montevidéu. Neste exato momento, a poucos minutos do apito inicial no belo estádio da trupe de Petraglia, os principais comandados de Valentim treinam visando o embate diante do Bragantino. Não confundamos o descaso com o duelo pelo Brasileiro com qualquer centelha de soberba com relação ao Galo. Hulk, Diego Costa... Entre os que acompanham o futebol, as estrelas alvinegras estão na ponta da língua.
Humildade alvinegra
Na véspera do jogo, com nossa equipe no hotel do Atlético, me emocionei com o modo humilde e carinhoso com o qual TODO elenco cumprimentou torcedores e jornalistas. Cuca, em especial, deu um show. Sacadas inteligentes, derrubando barreiras para crianças chegarem aos jogadores, tirando infinitas fotos com paciência estoica... Detalhe: tudo isso, inclusive, quando não sabia que jornalistas estavam vendo. Trabalhando com futebol, não raramente você passa a torcer por pessoas, não por times...
Vitória justa do Galo
Agora escrevo depois do jogo. Vitória justa do Galo. Atuação boa. Nada além. Uma trajetória gloriosa não se constrói apenas de performances brilhantes. O talento individual não aflora somente em apresentações esplendorosas. Num duelo equilibrado, com quantidade similar de oportunidades para os dois lados, às vezes a chave estará justamente na qualidade pura dos seus atacantes. Keno cresceu. Passes cirúrgicos, confiança para procurar o drible. Melhor em campo ontem.
Ninguém lê
Se Curitiba não ama futebol, como o mundo inteiro, esqueceu a leitura. Ninguém dá notícia de Dalton Trevisan, de Paulo Leminski.