O “zelo” dos cartolas
Em matéria publicada no dia 10 de março, o Wall Street Journal revelou que LeBron James tinha realizado quase 300 testes para a Covid-19. Tom Brady passara pela mesma experiência em pelo menos 200 ocasiões – e observemos que, na NFL, joga-se pouco, ou seja: o imenso zelo, a louvável disciplina se materializava pela preocupação com o dia a dia, os treinamentos, como tem de ser. Na última terça, Francisco José Battistotti, presidente do Avaí – e um dos presentes na fatídica videoconferência comandada com tom ditatorial por Rogério Caboclo –, em entrevista ao SportsCenter, da ESPN, ao defender que o futebol tupiniquim não há de parar, vociferou, altivo, peito estufado, que seu clube proporciona dois exames semanais para todos os funcionários. Havia um ar de inocência nesta parte da fala dele. O sujeito realmente acha que isso é o bastante.
Falta de noção
Revelações assim, singelas, advindas quase por acaso, nos transmitem a percepção de que, noves fora a sangria para manter as atividades nem que seja a fórceps, sem preocupar-se com ínfima qualificação na construção de argumentos – vide ações recentes da FPF e a patacoada na CBF –, à parte ambição e individualismo cegos, ausência de sensibilidade, genuinamente não se possui, via de regra, entre os mandachuvas do nosso esporte, sequer uma centelha de noção acerca da gravidade do que enfrentamos. Não me baseio aqui em declaração isolada. As surreais logísticas manejadas em estaduais e para a Copa do Brasil desnudam mais do que qualquer discurso.
Disciplina?
Quando se cogita uma cópia, no nosso país, de “bolhas” criadas em ligas estrangeiras, normalmente imagina-se apenas a escolha de uma sede única, e cuidados diretamente atrelados aos jogos – testagens frequentes antes destes, por exemplo. Ledo engano. Os atletas brasileiros, em geral, não adotam hábitos, fora das agremiações, que exalam, digamos, uma “bem-vinda neurose”. E não aludo aqui a “baladas”, coisas na linha. Encontros com familiares, amigos, escapadinhas para restaurantes, resorts...
Furando a bolha
Para realmente emularmos o que adveio na NBA, nossas estrelas haveriam de se submeter a um confinamento completo. Lembremos que poucos passos fora do hotel sediado na Disney, que comportou a ilha de exceção do melhor basquete do mundo, eram suficientes para uma espécie de suspensão, de obrigatoriedade de nova quarentena. Richaun Holmes foi punido meramente por buscar um delivery cruzando acidentalmente os limites do campus da competição americana. Outros casos similares ocorreram.
Pasta de dente
Não apenas na experiência esportiva mais famosa da pandemia a cobrança se revelava extremamente rígida. Na Bundesliga, o técnico do Augsburg, Heiko Herrlich, recebera punição simplesmente por buscar uma pasta de dente escapando do hotel do qual não poderia arredar o pé. Em suma: repetir fórmulas decantadas mundo afora que propiciaram a continuidade dos certames se mostra muito mais sofisticado do que se costuma sugerir nas rasas discussões perpassadas no Brasil.
Problema?
Regionais que seguem em estados diferentes, Copa do Brasil a todo vapor. Não descobriram que viajar é um problema?
NASA?
Se o Avaí acha que é a NASA por testar duas vezes por semana, imagina o que se passa nos clubes pequenos...