No último sábado, a imprensa nacional deu destaque para as bandeiras da Galoucura e da Máfia Azul, lado a lado, harmonicamente, na Arena Condá, estádio onde os corpos das vítimas do voo da Chapecoense estavam sendo velados em Chapecó. Ontem, li na Gazeta Esportiva: “Em uma cena que seria difícil de imaginar, não fosse o atual contexto pelo qual o futebol está passando, a Independente, do São Paulo, a Gaviões da Fiel, do Corinthians, a Mancha Verde, do Palmeiras, e a Torcida Jovem, do Santos, levantaram todas as suas bandeiras que levam as cores de seus respectivos times de coração. No entanto, para entoar o mesmo grito: o de solidariedade pela Chapecoense”.
Cenas como estas estão sendo registradas em todo o país, em que inimigos (sim, entre grupos como estes não há rivalidade, mas ódio e outros interesses) se confraternizam neste momento de comoção mundial. Infelizmente sou obrigado a ficar ressabiado da mesma forma que o experiente e ótimo jornalista Sérgio Xavier Filho, que twittou: “Da série ‘tomara que eu esteja enganado’: o tal ato das organizadas no Pacaembu é o dia de bonzinho do Tony Soprano”. O passado dessa turma nos leva à desconfiança e nos faz pensar em oportunismo.
Sem defesa. Diz a Declaração dos Direitos Humanos: “Todo acusado tem o direito de ser presumido inocente até que sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa”. Mas será que o piloto Miguel Quiroga, que não obedeceu as normas de voo, merece tais direitos?
Nada a ver. Muita gente diz que devemos aceitar essa tragédia como “desígnios de Deus”. Não dá! Foi ganância, tragédia anunciada, que pegou a Chapecoense, mas poderia ter sido a seleção da Argentina ou uma das outras quatro delegações que viajaram com essa LaMia, com limite de voo sem direito a nenhum imprevisto. Só que, nessa roleta russa do piloto Quiroga, houve um contratempo.
Sem clima. Seja quem for o campeão da Copa do Brasil, não será fácil levantar a taça e partir para a festa. Jogadores, dirigentes e jornalistas brasileiros continuam quase em estado de choque pelo ocorrido com a Chapecoense. Se uma pessoa morta, em qualquer circunstância, abala, imagine 71. E todos, colegas de atividade.
Saber a hora. Ao contrário de incontáveis jogadores de futebol e de outros profissionais do esporte, que não sabem o momento certo de parar, o piloto Nico Rosberg surpreendeu ao anunciar que chegou aonde queria: campeão mundial de F1, pronto para parar, no auge da carreira, com o objetivo de vida cumprido, aos 31 anos. Demonstração de desapego e controle da própria vaidade.