“Quem pariu Mateus que embale”. Quem nunca ouviu isso nem que seja de brincadeira depois de ter filho? No puerpério, então, a frase chega a doer. É nessa fase pós-parto, de modificações físicas e psíquicas, que as mães mais precisam de ajuda, entendimento, colo (não só para o bebê, mas para quem o pariu). Colo da mãe, do pai, do marido, das amigas.
Quando eu descobri que estava grávida de gêmeos, pensei: “E agora? Como vou dar conta de cuidar de três sem minha mãe por perto? Sem minha sogra? Afinal, fomos ensinadas a recorrer a elas nessas horas. Sempre a mulher, a figura materna, que tem que abrir mão de tudo pelos filhos, netos (é duro, né? Mas esse é outro tema para a coluna).
Bem, como eu não tinha pai, mãe, irmão, tio, tia, prima etc. por perto, pensei: “O que fazer?” Foi aí que, enquanto esperava mais uma consulta de pré-natal lá pela metade da gravidez, li pela primeira vez sobre a rede de apoio (na gestação do João, meu primeiro filho, não ouvi falar disso) e voltei a respirar mais calma. Essas três palavrinhas juntas significavam algo tão bonito e possível, tão atual quando se fala tanto em coletivo, em dar as mãos, em estar junto.
Rede de apoio são todas aquelas pessoas que, direta ou indiretamente, te ajudam a sobreviver na maternidade. Começa por quem vai até sua casa no pós-parto para segurar o neném enquanto você toma banho ou simplesmente descansa os braços. Lavar uma louça. Bater um papo descontraído para quebrar a tensão. Dividir experiências.
No meu caso, começou antes, ainda no hospital. Fiquei dois dias na UTI, sem poder me comunicar com o João, hoje com 3 anos e oito meses. Meu marido tinha que se desdobrar entre me visitar, olhar os bebês na UTI neonatal e cuidar do João em casa. É aí que aparecem as peças preciosas da rede de apoio: os amigos.
Só quem passa por uma situação assim sabe da importância que tem alguém ligar oferecendo para ser seu acompanhante no hospital ou levar seu filho mais velho para brincar.
A partir daí, vi minha rede de apoio se estruturar. Desde os familiares distantes, que se materializaram na minha casa em corpo, alma e coração; as amigas de longe que mandaram enxoval, carrinho, bolsa-maternidade e boas vibrações; os vizinhos, que ofereceram carro e ajuda a qualquer hora; as mães da escolinha do João, que doaram berço, roupinhas e ajudaram até no “para casa” do meu filho; as amigas de BH, que compraram as lembrancinhas das visitas; até as babás, que adaptaram horários quando foi preciso e viajaram com a gente; entre tantas outras demonstrações de carinho, solidariedade, disposição.
É claro que tem muitas vezes que a gente se pergunta: “Cadê todo mundo?”. Nas madrugadas, fins de semana, somos eu e o marido para tudo: cuidar das crianças, fazer almoço, lavar louça, arrumar casa...afe. Tem horas que a gente pede a Deus, sim, que alguém apareça espontaneamente, sem a gente ter que ligar e pedir.
Mas sei também que, se eu precisar mesmo, a rede de apoio estará pronta para me ajudar. É como diz o provérbio “é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”. Acredito, sim, na força dessa comunidade, a real, a virtual, a terrena, a divina.
E você, tem sua rede de apoio?
* Jornalista, redatora dos jornais O TEMPO e Super Notícia, mãe do João e dos gêmeos Raul e Gael e autora do perfil @joaoeosgemeos