O Brasil apresenta sinais de que sua crise é parte de uma decadência, que vai exigir anos, talvez décadas, para ser superada, recuperando o rumo do desenvolvimento civilizatório. O atual debate político prisioneiro do confronto em 2022 exclui a ideia de que Jair Bolsonaro é um fenômeno trágico e brutal, mas passageiro, e que, ao se abraçarem a ele, seus opositores ignoram a dimensão da tragédia histórica que o Brasil atravessa há anos. O momento atual é visto como uma crise, consequência do Bolsonaro, quando na realidade ele é um indicador da nossa decadência.
A ânsia de emigração também é um indicador de decadência. As pessoas estão emigrando para fugir da incerteza, da falta de perspectiva de bem-estar e da ausência de desafio para construir uma nação. A emigração é facilitada pela globalização que permite manter laços familiares e culturais, mesmo vivendo no exterior. A decadência que provoca a emigração se agrava porque rouba o potencial desses emigrantes que vão beneficiar o país que os adota ou tolera. Um dia, algum desses emigrantes, ou seu filho ou filha, provavelmente receberá um Nobel em nome do país onde vive e produz.
Outro indicador de decadência está no despreparo educacional de grande parcela da população de adultos “analfabetos para a contemporaneidade”: não conhecem bases da ciência, não entendem os problemas do mundo, não falam idiomas estrangeiros. Isso indica que não estamos preparados para a integração no mundo, nem sintonizados com a velocidade com que ele avança. O corte de verbas promovido recentemente por decisão do presidente da República induz à decadência, porque o país que não invista maciçamente em conhecimento fica para trás em relação aos outros países.
Uma prova da decadência moral é a tolerância com a divisão da sociedade brasileira por uma brutal concentração de renda, cuja manifestação mais anticivilizada é sermos o maior exportador de alimentos e termos um imenso contingente de pessoas famintas. A aceitação natural de notícias sobre a fome intercaladas de propaganda de alimentos e de concursos de gastronomia é mais um indicador de decadência moral que lembra o tempo em que a escravidão era aceita com naturalidade, separando brancos de negros.
Também é prova de decadência termos o presidente mais ridicularizado entre todos do mundo, visto como motivo de galhofa internacional, representando um país em decadência, ao negar a importância da ciência. Ainda mais quando a oposição se torna prisioneira dos interesses eleitorais imediatos, sem perceber a decadência, nem apresentar rumos alternativos para barrá-la e promover a ascensão do país a um patamar superior de civilização.
Nossos líderes parecem pilotos que disputam controlar o leme do navio, sem ver o iceberg da decadência em frente.