CRISTOVAM BUARQUE

Nossas universidades

Não são do governo nem das corporações, mas de todos


Publicado em 10 de maio de 2019 | 03:00
 
 
 
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Nenhuma instituição dá tanta contribuição ao desenvolvimento científico como as universidades. E um governo patriótico, que entenda os rumos da era do conhecimento, deve ampliar os recursos para o ensino superior e, ao mesmo tempo, enfrentar a tragédia da educação de base.

A decisão de cortar recursos das universidades federais mostra um governo cego para os novos rumos da história. Igualmente grave é que as oposições tampouco parecem ter alternativas que assumam a importância da educação para o futuro do país. O governo trata as universidades com desprezo porque elas não pertencem ao seu grupo ideológico, mas na comunidade acadêmica muitos tratam a instituição como se pertencesse a seus alunos, professores e servidores, e não ao povo brasileiro, que financia seus gastos. 

O governo atual não entende qual é o papel das universidades e quer descaracterizá-las; as oposições, por sua vez, continuam a vê-las como escada de ascensão para os que nelas entram. Não conseguem enxergar as universidades como alavanca para o progresso econômico e social. O ensino superior é um instrumento de ascensão pessoal para quem se forma, porém a formação não é apenas para beneficiar o indivíduo, mas para servir ao conhecimento e à formação de profissionais que permitam melhorar o país. 

Mesmo políticas que parecem destinadas a beneficiar indivíduos só se justificam em instituições públicas se beneficiam o país. Ao mudar a imagem do Brasil, modificando a cor da cara da elite brasileira, as cotas para afrodescendentes beneficiam mais todo o país do que o jovem negro cotista. O atual governo não gosta das cotas, e as oposições as veem como escada para o jovem beneficiado, e não como uma alavanca para o Brasil. 
Por isso, enquanto o governo ameaça a universidade, as oposições não acenam com um projeto que vá além da sobrevivência e que justifique para o povo o papel delas como vetor decisivo para o progresso. A universidade pública deve ajudar o Brasil a sair da tragédia da educação de base, começando pela erradicação do analfabetismo, construindo métodos e políticas para que todos os jovens brasileiros terminem o ensino médio com qualidade, independentemente da renda e do endereço da família. 

As universidades precisam estar sintonizadas com o futuro, não com o presente; mais com o país, não com sua própria comunidade; mais com a tolerância, não com seitas; mais com o mérito, menos com apadrinhamentos. Elas devem lutar por mais recursos, mostrando eficiência e austeridade, e adotar papel preponderante na revolução educacional, tendo ambiciosa estratégia de promoção do conhecimento.

Sobretudo, as universidades públicas são nossas, do país e de seu povo. Não pertencem ao governo obscurantista, que passará; tampouco a suas corporações, que, diferentemente do governo, serão tolerantes com todas as posições políticas, sem sectarismos.

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