Não é novidade o quanto é difícil mudar de hábitos. Ficamos meses, anos e até mesmo a vida inteira enterrados em um tipo de comportamento. Não é simples pensar que em três dias uma nova rotina será criada. 

Certa vez, consultei uma mãe e sua filha que, apesar de terem intolerância à lactose, baseavam sua alimentação fortemente em laticínios.

Os sintomas de intolerância à lactose são clássicos. Até hoje, nenhum dos pacientes que senti necessidade de pedir o exame voltaram negativados.
No entanto, muitas vezes entro em discordância com o paciente, que está acostumado com sintomas clássicos da intolerância, mas despreparado para lidar com outras faces do problema. 

Dores abdominais, flatulências e diarreias ao consumir leite são sintomas tão óbvios que não precisam ser profundamente pesquisados.
Infelizmente, não são sempre estas as manifestações da intolerância à lactose. Fortes dores de cabeça, inflamações do aparelho respiratório, rinites, bronquites, sinusites, quadros semelhantes a asma, alterações de pele e acne também são manifestações deste problema. 

Diante destas outras facetas da intolerância, mesmo diante do exame positivo, é comum que o paciente tenha dificuldades em compreender que terá benefícios reais em sua saúde com a retirada do leite de sua dieta.
Foi o que ocorreu com essa mãe que desejava manter o uso de leite para as duas e fazer o uso da enzima lactase. Eu disse que essa não era a minha conduta.

Concluí explicando que a intolerância à lactose não é uma alteração isolada, que normalmente traduz um quadro de disbiose intestinal e que, além da retirada do leite do cardápio, era importante organizar dieta para tratar este intestino vulnerável.

Ainda assim, a ideia de retirar o leite era algo muito incômodo para ela, e então a paciente me levou várias literaturas sobre a enzima lactase e queria me convencer que a solução para elas era o uso da lactase.

Eu disse que, se ela entendia que essa era a solução, que ela deveria fazer o que ela considerava melhor, mas que ela não teria a minha aprovação.
Embora existam diversos comprimidos de lactase no mercado, realmente não vejo que ingeri-los seja a melhor opção, visto que é muito complexo fazer a dosagem entre a quantidade necessária de lactase a ser tomada por leite consumido e, em caso de excesso, tanto de lactase quanto de lactose, o intestino sofrerá.

Mesmo as propostas de leite “no lac” sofrem com este problema. Em casos como este, eu indico que o paciente opte por um leite vegetal que mais lhe agrade.