O alto preço pago pelos alimentos faz a população se preocupar mais do que a equipe econômica com a inflação. Afinal, o IPCA, índice oficial adotado pelo governo, mostra um aumento de apenas 1,34% até setembro – com folga em relação à meta de 2020, que é uma taxa máxima de 4%. Mas é preciso ficar atento aos sinais de que a situação não é tão boa para os setores produtivo e previdenciário.
O IGP-M, usado para corrigir contratos e medir os custos para o setor produtivo, já acumula uma alta de 17,94% até setembro. E a prévia do segundo decênio de outubro aponta que a taxa vai superar os 20% em 12 meses. Além do impacto na correção do aluguel, o IGP-M revela crescimento de 3,69% nos custos de materiais e equipamentos para a construção civil – setor que responde por um terço do PIB industrial brasileiro –, bem como uma disparada nos preços de óleo diesel, gasolina e minério de ferro ao produtor – que invariavelmente chegará ao consumidor.
Mas a pressão não se dá apenas no setor produtivo. O INPC, usado para corrigir o salário mínimo e os benefícios previdenciários, já projeta ficar entre 3% e 3,2% no ano – acima dos 2,09% previstos no Orçamento. Como cada 0,1 ponto além do projetado representa um custo adicional de R$ 768 milhões, essa variação significa uma despesa extra de até R$ 8,5 bilhões aos cofres públicos.
Por trás dos números estão a sobrevalorização do dólar e a consequente disparada dos alimentos (tanto pelo custo do insumo quanto pela falta do produto, que está sendo exportado a preços mais atraentes). Por isso, é preciso olhar para além da meta oficial da inflação e levar a sério os efeitos que consumidorese empreendedores já estão sentindo, sob o risco de pagar se um preço alto demais num futuro muito próximo.